É
preciso estarem sempre embriagados. Aí é que tudo está: esta é a única questão.
Para não sentirem o horrível fardo do
Tempo que lhes quebra os ombros e recurva
o dorso, precisam embriagar-se sem trégua.
Mas
de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à sua guisa. Mas embriaguem-se.
E
se, de vez em quando, vocês acordarem na escada de um palácio, na relva verde
de uma vala ou na morna solidão do seu quarto, tendo a embriaguez já diminuído
ou desaparecido, perguntem ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a
tudo o que fala, perguntem que horas são, e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro,
o relógio, responder-lhe-ão: “É hora de embriagar-se! Para não serem escravos
martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem parar! De vinho, de
poesia ou de virtude, à sua guisa”.
Charles
Baudelaire, O Esplim de Paris: Pequenos poemas em prosa. Ed. Martim Claret.
Tradução de Oleg Almeida.
2 comentários:
Muito legal, Gustavo.
Justa homenagem a um dos maiores poetas, um de meus preferidos, Baudelaire.
Salve "as flores do mal", eterno clássico.
Grande abraço e sucesso!
Adoro esse poema, Gustavo. Li pela primeira vez na tradução de Aurélio Buarque de Holanda, penso que é bem melhor do que essa. Dê uma conferida.
Abraços.
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