sexta-feira, 24 de junho de 2011

Embriaguem-se


É preciso estarem sempre embriagados. Aí é que tudo está: esta é a única questão. Para não sentirem o horrível  fardo do Tempo que lhes quebra os ombros e recurva  o dorso, precisam embriagar-se sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à sua guisa. Mas embriaguem-se.
E se, de vez em quando, vocês acordarem na escada de um palácio, na relva verde de uma vala ou na morna solidão do seu quarto, tendo a embriaguez já diminuído ou desaparecido, perguntem ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntem que horas são, e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, responder-lhe-ão: “É hora de embriagar-se! Para não serem escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude,  à sua guisa”.

Charles Baudelaire, O Esplim de Paris: Pequenos poemas em prosa. Ed. Martim Claret. Tradução de Oleg Almeida.

2 comentários:

Evandro L. Mezadri disse...

Muito legal, Gustavo.
Justa homenagem a um dos maiores poetas, um de meus preferidos, Baudelaire.
Salve "as flores do mal", eterno clássico.
Grande abraço e sucesso!

Fátima Santiago disse...

Adoro esse poema, Gustavo. Li pela primeira vez na tradução de Aurélio Buarque de Holanda, penso que é bem melhor do que essa. Dê uma conferida.
Abraços.