Setenta
balcones y ninguna flor é um antológico poema do escritor argentino Baldomero
Fernández Moreno (1886 – 1950) que há tempos me tem encantado. Baldomero é um poeta que utiliza a linguagem sem florilégios, mas ao mesmo tempo de uma forma profundamente singular e aparentemente
espontânea. Seus poemas parecem descrever pinturas.
Confesso
que gostaria muito de traduzir o poema para postá-lo aqui, entretanto, como o
trabalho será árduo, tendo em vista a métrica rigorosa que segue o poeta,
dividindo cada verso em dois hemistíquios de cinco sílabas cada, terei que – por
enquanto – me contentar em publicá-lo em sua língua pátria, o espanhol, embora não exista dificuldades em sua completa compreensão.
Vale
ressaltar duas palavras utilizadas: uma delas é “balcones”, que para nós é o
mesmo que “sacada”, “varanda”. O poeta fala de uma casa com setenta sacadas, muito
grande, imponente, mas que não ostenta nenhuma flor, o que lhe confere um ar
hostil, crepuscular. Outra palavra um pouco incomum é “hierro”, que para nós é
o mesmo que “grade”, “gradil”. O poeta pergunta se na casa não se quer ver abrir-se
um jasmim sobre o negro gradil.
Sugiro
– sobretudo a poetas iniciantes – que o poema seja lido e relido inúmeras vezes
a fim de se buscar apreender todos os sentidos dessa formidável composição,
sobretudo a sua melodia e os aspectos mais relevantes do discurso do autor e sua
inflexão singular. Ao final, não deixe de assistir ao vídeo.
Setenta
balcones y ninguna flor
Baldomero Fernández
Moreno
Setenta balcones hay en
esta casa,
setenta balcones y
ninguna flor.
¿A sus habitantes,
Señor, qué les pasa?
¿Odian el perfume, odian el color?
La piedra desnuda de
tristeza agobia
¡dan una tristeza los
negros balcones!
¿No hay en esta casa
una niña novia?
¿No hay algún poeta
lleno de ilusiones?
¿Ninguno desea ver tras
los cristales
una diminuta copia de
jardín?
¿En la piedra blanca
trepar los rosales,
en los hierros negros
abrirse un jazmín?
Si no aman las plantas
no amarán el ave,
no sabrán de música, de
rimas, de amor.
Nunca se oirá un beso,
jamás se oirá una clave...
¡Setenta balcones y
ninguna flor!
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