Sempre
cri na função estética da linguagem, na função existencial do poema quando o
poeta canta os sentimentos íntimos que são comunicantes de emoções ou de
anseios coletivos. Por isso não ignoro a função social e crítica da poesia, mas
ignoro os poetas que se alijam do compromisso por uma sociedade menos desigual,
equitativa e solidária. Apesar disso, sempre detestei a leitura de poetas panfletários,
aqueles que colocam as ideologias antes do poema, não o contrário, como deve
ser.
Por
isso sempre li poetas de alma lírica e consciência crítica. Entre meus
preferidos está o poeta Ferreira Gullar e o hondurenho Roberto Sosa, falecido
no último mês de maio aos 81 anos. Sem
seus versos a poesia e a própria humanidade ficam um pouco mais carentes. Sem
seu grande poeta, Honduras fica um pouco mais pobre.
Abaixo,
um poema de Roberto Sosa para exemplificar o que digo.
Os
Pobres
Os pobres são muitos
e por isso
é impossível ignorá-los.
Seguramente
vêem
nos amanheceres
múltiplos edifícios
onde eles
quiseram viver com
seus filhos.
Podem
levar nos ombros
o féretro de uma
estrela.
Podem
destruir o ar como aves
furiosas,
nublar o sol.
Mas desconhecendo seus
tesouros
entram e saem por
espelhos de sangue;
caminham e morrem
lentamente.
Por isso
é impossível ignorá-los.
Tradução
de Gustavo Felicíssimo
Los
pobres
Los pobres son muchos
y por eso
es imposible
olvidarlos.
Seguramente
ven
en los amaneceres
múltiples edificios
donde ellos
quisieran habitar con
sus hijos.
Pueden
llevar en hombros
el féretro de una
estrella.
Pueden
destruir el aire como
aves furiosas,
nublar el sol.
Pero desconociendo sus
tesoros
entran y salen por
espejos de sangre;
caminan y mueren
despacio.
Por eso
es imposible
olvidarlos.
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