quinta-feira, 9 de junho de 2011

Roberto Sosa, um grande poeta hondurenho


        Sempre cri na função estética da linguagem, na função existencial do poema quando o poeta canta os sentimentos íntimos que são comunicantes de emoções ou de anseios coletivos. Por isso não ignoro a função social e crítica da poesia, mas ignoro os poetas que se alijam do compromisso por uma sociedade menos desigual, equitativa e solidária. Apesar disso, sempre detestei a leitura de poetas panfletários, aqueles que colocam as ideologias antes do poema, não o contrário, como deve ser.
Por isso sempre li poetas de alma lírica e consciência crítica. Entre meus preferidos está o poeta Ferreira Gullar e o hondurenho Roberto Sosa, falecido no último mês de maio aos 81 anos. Sem seus versos a poesia e a própria humanidade ficam um pouco mais carentes. Sem seu grande poeta, Honduras fica um pouco mais pobre.
Abaixo, um poema de Roberto Sosa para exemplificar o que digo.


Os Pobres

Os pobres são muitos
e por isso
é impossível ignorá-los.

Seguramente
vêem
nos amanheceres
múltiplos edifícios
onde eles
quiseram viver com seus filhos.

Podem
levar nos ombros
o féretro de uma estrela.

Podem
destruir o ar como aves furiosas,
nublar o sol.

Mas desconhecendo seus tesouros
entram e saem por espelhos de sangue;
caminham e morrem lentamente.

Por isso
é impossível ignorá-los.

Tradução de Gustavo Felicíssimo


Los pobres

Los pobres son muchos
y por eso
es imposible olvidarlos.

Seguramente
ven
en los amaneceres
múltiples edificios
donde ellos
quisieran habitar con sus hijos.

Pueden
llevar en hombros
el féretro de una estrella.

Pueden
destruir el aire como aves furiosas,
nublar el sol.

Pero desconociendo sus tesoros
entran y salen por espejos de sangre;
caminan y mueren despacio.

Por eso
es imposible olvidarlos.

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