O
Prêmio SESC de Literatura é um concurso anual, voltado para escritores
inéditos com obras na área do conto e romance. O Prêmio: edição, distribuição e divulgação da obra, ação desenvolvida
com a parceria da EDITORA RECORD, que garante não somente uma distribuição
eficiente do livro em território nacional, mas também que ele seja editado com
um projeto gráfico de qualidade. Aproveitem. As
inscrições foram prorrogadas até 31 de setembro, pelo site.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Poesia na TV
Nesta 4ª feira retornarei à TVI, a partir das 10:30h, desta feita com os poetas George Pellegrini e Piligra, que junto comigo escreveram o Cordel Os três irmãos da curriola: Chico Tampa, Zé Tabaca e Mané Sola, para participar do programa HOJE
EM FOCO, uma revista eletrônica ao vivo onde se destaca fatos locais e entrevistas
com personalidades que contribuem e fazem hoje a história da região cacaueira
da Bahia, com destaque para moda, música, teatro, cinema e lazer. Quem se
interessar pode assistir via internet CLICANDO AQUI.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Os três irmãos da curriola: Chico Tampa, Zé Tabaca e Mané Sola
Nesta
segunda-feira lanço meu primeiro folheto de cordel pela Edições Tocaia, em
convênio com a Editus, a editora da UESC. Os três irmãos da curriola conta a
fantasiosa história de Chico Tampa, Zé Tabaca e Mané Sola, três diabinhos que vieram à terra pra fazerem muita
estripulia. O folheto foi escrito a seis mãos, juntamente com George Pellegrini e Piligra, meus amigos e parceiros de
diversas travessias, e seu lançamento marca ainda a despedida do Piligra do
nosso convívio por um tempo, pois ele está de malas prontas para passar um
tempo na Alemanha, se preparando para o doutorado em Frankfurt.
Apareçam! O folheto será vendido pela bagatela de 2,00. No cartaz abaixo estão locais e horários.
clique para ver a imagem maior |
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Sexta canção para Flora
Se lhe tirarem o
sorriso
ou lhe fecharem os
caminhos
não se incomode, filha
minha,
são os temores, os
espinhos;
são as tormentas, logo
passam,
mas os que ficam, nos
abraçam;
os que nos amam nos
confortam
e logo formam grande
coro –
contra a penúria, nos
amparam:
quando tentarem lhe
ferir
só não se esqueça de
sorrir.
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terça-feira, 23 de agosto de 2011
Um soneto de Ferreira Gullar
Reli
o belo soneto, publicado abaixo, pela milionésima oportunidade, e dessa vez
no vôo sem pouso, blog do meu amigo
João Filho. Trata-se do poema nº 5 da série Sete poemas portugueses, inseridos
em A luta corporal, segundo livro de Ferreira Gullar.
5.
Prometi-me possuí-la
muito embora
ela me redimisse ou me
cegasse.
Busquei-a na catástrofe
da aurora,
e na fonte e no muro
onde sua face,
entre a alucinação e a
paz sonora
da água e do musgo,
solitária nasce.
Mas sempre que me
acerco vai-se embora
como se me temesse ou
me odiasse.
Assim persigo-a, lúcido
e demente.
Se por detrás da tarde
transparente
seus pés vislumbro,
logo nos desvãos
das nuvens fogem,
luminosos e ágeis!
Vocabulário e corpo —
deuses frágeis —
eu colho a ausência que
me queima as mãos.
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segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Ferreira Gullar em dois tempos
De
acordo com informações de Ancelmo Gois n’O Globo do último dia 22, Ferreira
Gullar entregou à Editora José Olympio os originais de dois livros inéditos. Um
monólogo teatral e um livro para crianças, chamado A menina Cláudia e o
rinoceronte, com colagens do escritor.
***
Ferreira
Gullar havia acabado de cair na clandestinidade - era 1970 - quando leu a seguinte
notícia no jornal: pai é acusado de roubar rubi encravado no umbigo do filho
(por razões medicinais) para sanar dívidas da família. "Eu achei isso tão
engraçado e louco que me veio a ideia, independentemente de ser verdade ou
não", lembra o poeta e colunista da Folha. A ideia era usar a história
como mote para a peça, Um rubi no umbigo, que estreou na sexta-feira (19) para
o público carioca. Ao escrever, Gullar não perdeu de vista o caráter cômico da
história, mas, até como reflexo dos tempos sombrios em que vivia, retratou no
texto "a relação do ser humano com a riqueza" de modo crítico e
desesperançado.
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Um rubi no umbigo
Transe
Como é
doce a lembrança de outras faces,
bem mais
doce, porém, a imagem desta
que em
meu ser encontrou pequena fresta
e
adentrou de mansinho, sem disfarces.
Delícia
que me leva à realidade,
assegura
a certeza na ilusão
vivida,
no porvir e na visão
que me
encarcera, assim, noutra verdade.
Embora eu
não estranhe a voz do medo,
esse ser
que atormenta e também cega,
vivo
agora o que ao homem não se nega:
entregar-se
ao amor sem arremedo.
Apesar de
sentir o véu da morte
insisto
em ser senhor da minha sorte.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
No ar a 59ª edição da Diversos Afins
Está
no ar a 59ª edição da revista virtual Diversos Afins. Segundo informa o meu
querido amigo e editor Fabrício Brandão, o conteúdo é o seguinte:
- uma valiosa entrevista com o libertador de
livros João do Corujão da Poesia
-
suaves perspectivas das telas de Staëll Di Lukka
-
todos os versos de Lívia Soares, Felipe Stefani, Luciano Fraga, Maria Quintans,
Romério Rômulo, Iracema Macedo e Fabrício Clemente
-
a prosa marcante nas linhas de Maria da Conceição Paranhos, Regina M. A.
Machado e Alice Fergo
-
a veia cinéfila cada vez mais perspicaz de Larissa Mendes
-
os percursos de Maria João Cantinho em torno da obra recente do poeta lusitano
Casimiro de Brito
-
o mais novo disco de Ana Paula da Silva
É clicar AQUI e conferir
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Fabrício Brandão
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Os 110 anos de Sosígenes Costa
A
grande comemoração pelos 110 anos de Sosígenes Costa acontecerá em Belmonte,
sul da Bahia, sua terra natal, no próximo mês de novembro. Além de um show com as prováveis participações de Xangai e Renato Teixeira, ainda haverá o lançamento de
Cobra de duas cabeças, título provisório do livro que estou organizando - que é
fruto da dedicação do meu amigo Herculano Assis - com poemas, crônicas e dois
artigos inéditos do autor, além de uma rara entrevista publicada na década de
50 na extinta revista Marca, do Rio de Janeiro.
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Mega celebração para os 110 anos de Drummond
Com informações da Folha
de S. Paulo
Não
será apenas Jorge Amado que será megacelebrado em 2012. Carlos Drummond de
Andrade que já é o poeta mais consagrado do Brasil, nos próximos meses tudo estará
conspirando para torná-lo também o mais célebre com um livro de poemas
inéditos, nova editora, títulos especiais, acervo pessoal sob nova guarda,
homenagem na Flip, exposições, uma nova antologia em inglês e uma enxurrada de
grandes acontecimentos. As prévias começam em 31 de outubro, quando o Instituto
Moreira Salles promove o "Dia D", série de eventos na data em que
nasceu o poeta. A ideia é que o festejo extrapole os limites do instituto e
entre para o calendário cultural do país, como o Bloomsday para a obra de James
Joyce.
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segunda-feira, 15 de agosto de 2011
O exercício crítico segundo a cátedra
O Estado de S. Paulo - 13/08 –
Antônio Gonçalves Filho
O
professor de literatura da Uerj e crítico literário João Cezar de Castro Rocha,
acaba de lançar um livro que deve provocar incômodo no meio universitário,
Crítica literária: Em busca do tempo perdido? (Argos, 443 pp., R$ 49). Tudo
porque, ao analisar a polêmica iniciada em 1948 por Afrânio Coutinho contra o
"impressionismo" dos rodapés literários publicados pelos jornais da
época, assinados por críticos como Álvaro Lins, atestou que ela não acabou. Os
acadêmicos, de modo geral, desconfiam da clareza do texto jornalístico e
preferem se dedicar ao ensaísmo para poucos. O que Castro Rocha propõe é
atualizar as lições de Antonio Candido e Mário Faustino, imaginando uma crítica
literária insubmissa ao cânone, ideologicamente independente e disposta a um
corpo a corpo com o texto.
Clique
AQUI para ler a entrevista
Acervo de Glauber Rocha está todo em São Paulo
O que faltou para que o
acervo glauberiano fosse trazido para a Bahia, terra natal do cineasta?
No
dia 22 de agosto completa-se 30 anos da morte de Glauber Rocha. Nesse mês o
cineasta baiano certamente será muito lembrado e homenageado. Muitas matérias estamparão
jornais, sites e blogues do país. A primeira delas, nada agradável – pelo menos
é assim que a vejo – para os baianos, quem deu foi O Estado de São Paulo no
último dia 12. Abaixo, alguns trechos da matéria:
Originado da obstinação da mãe de Glauber em
fazer as palavras do filho ecoarem mundo afora, o Tempo Glauber, no Rio, (...)
sempre viveu na corda bamba. Desde o início do ano, não recebe recursos do
Ministério da Cultura destinados a seu custeio, o que faz com que a família
Rocha use dinheiro próprio para mantê-lo aberto, abrigando e difundindo sua
produção intelectual. Anteontem, a luz chegou a ser cortada. (...) Sem querer
arriscar um acervo riquíssimo salvaguardado por Dona Lúcia com doses iguais de
amor e meticulosidade, eles venderam em dezembro à Cinemateca Brasileira, por
R$ 3 milhões, roteiros, fotografias, manuscritos, poemas (cabem et ceteras) -
tudo digitalizado -, num total de 25 metros lineares reveladores do pensamento
e da poética do cineasta. A transferência para São Paulo já foi feita.
***
Em
relação ao acervo glauberiano, o que me intriga é o fato dele não estar aqui na
Bahia, em Salvador ou na sua cidade natal, Vitória da Conquista, onde a casa em
que o cineasta nasceu continua bem preservada, com um jardim lateral bem cuidado
e enormes janelas frontais ao estilo colonial.
Em
março de 2008, na abertura da exposição Glauber, Uma Revolução Baiana, no foyer
do Teatro Castro Alves, filha e mãe do cineasta, Paloma Rocha e Lúcia Rocha,
anunciavam que todo acervo do cineasta poderia vir para a Bahia, que "tudo
agora está nas mãos dos poderosos". Entre os tais "poderosos",
estava o secretário de Cultura do Estado, Marcio Meirelles, que fez o convite
para que acontecesse aquela exposição em homenagem aos 69 anos de Glauber. Na
abertura da exposição, Meirelles e familiares do cineasta assinaram um
compromisso de intenção para trazer o acervo digital do Tempo Glauber para
Salvador.
Segundo
o Jornal A Tarde de 14 de março de 2008, as conversas iniciais indicavam que havia
o interesse de que este ponto digital, que daria acesso aos quase 70 mil
documentos da produção intelectual do cineasta, fosse para a Diretoria de Artes
Visuais e Multimeios, mas a maior possibilidade é que fosse instalado dentro da
UFBA. Entretanto, em 2010 o acervo em questão foi adquirido pela Cinemateca
Brasileira, órgão do Ministério da Cultura, e foi para a sua sede em São Paulo.
Nada
contra a Cinemateca Brasileira, de belíssima história, onde tenho certeza que o
acervo de Glauber estará muito bem preservado, tampouco contra a cidade da
garoa, mas a pergunta que não quer calar é a seguinte: o que faltou para que o acervo
glauberiano fosse trazido para a Bahia, terra natal do cineasta? Se alguém
puder nos responder...
Visite
o site do Tempo Glauber clicando AQUI.
AQUI
para ler ótimo texto do mestre André Setaro sobre Glauber Rocha.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
A delícia e o desafio de ser Pai
Todo
pai de primeira viagem descobre rapidamente o quanto seu novo papel é delicioso
e desafiante. Delicioso porque voltamos ao mundo da fantasia e sonhamos com
mais intensidade, ao mesmo tempo nos tornamos menos vulneráveis às provocações
externas. Desafiante porque, com nossas experiências de filho, somos impelidos
a superar nossos pais. Somos chamados a transcender nossos limites. É aí,
talvez, que reside o motivo maior da paternidade.
Sempre
estive literalmente infenso às datas comemorativas, como o natal, dia das
crianças, dia das mães, e outras. Entretanto, às portas dos meus 40 anos, algo
começou a mudar. Num momento em que já não alimentava qualquer aspiração à
paternidade, ela me apanhou e me virou pelo avesso. Foi então que percebi o
quanto ser pai é um exercício constante de generosidade, abdicação, tolerância,
paciência. É, também, viver em estado permanente de transformação interior.
Ser
pai é delicioso e desafiante, é acordar de madrugada preocupado com o choro do
filho, mas é também lhe oferecer o conforto necessário dos nossos braços para
que volte a dormir. É saber que o filho vai requerer para si todo o tempo que
sua mãe tiver, e mesmo assim seremos completamente loucos por eles. Ser pai é
trocar fraldas, limpar cocô, perder noites de sono. É chegar exausto ao final
do dia e mesmo assim encontrar mais um pouquinho de energia para dedicar-se ao filho.
Mas também é se emocionar com um sorriso, com os primeiros passos, primeiras
palavras. Ser pai é comemorar o dentinho que está nascendo e ficar parecendo um
tolo quando se ouve o primeiro... papai.
Devido
aos apelos midiáticos e publicitários que infestam nosso cotidiano, poderia continuar
aceitando que o Dia dos Pais é apenas mais uma data meramente ilustrativa,
comercial, cujo ápice supostamente ocorre na oferta dos tradicionais presentes.
Mas isso pode ser visto de outra forma.
Recorrendo
ao dicionário, encontrei o adjetivo “paterno” como significante de algo que
“lembra o amor de pai”. Convenci-me, então, que a maior gratificação de um pai
no Dia dos Pais não é receber um presente ou ter reservado no calendário um dia
para ser lembrado mais efusivamente. No Dia dos pais a maior gratificação de um
pai é poder oferecer a seu filho mais um pouco de amor e carinho.
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quinta-feira, 11 de agosto de 2011
A Estrada do Mar
Escritor
consagrado, tendo publicado O país do carnaval, Cacau, Suor, Jubiabá, Mar Morto
e Capitães da Areia, em 1938, residindo em Sergipe, Jorge Amado fez imprimir a
edição de um livro de poemas em prosa intitulado A Estrada do Mar, sem veiculação
comercial e distribuição restrita apenas para os amigos. Livro raríssimo, ao
qual sempre estive em busca, a essa altura pertencente à categoria das
preciosidades literárias brasileiras. Por isso já me contentaria ao menos em
poder conhecer alguns dos poemas ali publicados.
Não
obstante, tenho visto ao longo do tempo o esforço de algumas pessoas no sentido
de aproximar a prosa amadiana da poesia lírica, dispondo em versos algumas
passagens dos seus romances, o que me parece um tanto forçoso, desproposital,
afinal, entre prosa poética e poesia em prosa há uma distância considerável,
ainda que o autor em questão em muitos momentos se esforce para diminuir as
barreiras entre a linguagem denotativa, característica da prosa, e a
conotativa, característica da poesia. Isso não significa que eu não acredite na
possibilidade de novas leituras da obra do mais canônico e popular escritor
baiano.
Quem
não resistiu à tentação de dispor a prosa de Amado em versos foi a fotógrafa
Maureen Bisiliat, na edição de Bahia Amada Amado, obra de grandes proporções,
com ótima encadernação, título em relevo e fotos impressionantes. Ela escolheu
textos indiscutivelmente poéticos, mas de modo algum poderiam ser dispostos em
verso, como se dessem a entender que são, de fato, poemas em si. Bom exemplo é o
trecho abaixo de ABC de Castro Alves:
No
tempo do poeta Castro Alves
Os
negros eram escravos comprados em leilões,
Mercadoria
que se vendia, trocava e explorava.
E
em troca de tudo que eles deram ao branco,
Sua
força, seu suor, suas mulheres e filhas,
A
maciez da sua fala que adoçou a nossa fala,
Sua
liberdade,
O
branco lhe quis dar apenas,
Além
do chicote, os deuses que possuía.
Não deu certo. A linguagem é toda
denotativa, descritiva e linear como o autor concebeu, ameaçando beijar a
poesia apenas quando diz que “A maciez da sua fala que adoçou a nossa fala”.
Muito pouco para um poema.
O poeta Telmo Padilha, em 1974,
organizou e deu à publicação uma obra intitulada Moderna Poesia do Cacau. A
obra possui dois pontos graves: o primeiro está no título, pois como aponta
Hélio Pólvora no prefácio, “nem todos os antologiados são poetas do cacau”, e
prossegue dizendo que melhor seria chamá-la genericamente de “Poetas da região
cacaueira da Bahia”. O segundo está no fato de ser muito abrangente e
consequentemente pouco seletivo. Há ainda uma terceira questão: dispor em forma
de versos um texto em prosa de Jorge Amado. Eis abaixo apenas dois trechos de
As três Marias, retirados de Terras do sem fim, que na antologia virou Era uma
vez três irmãs:
Era
uma vez três irmãs:
Maria,
Lúcia, Violeta,
unidas
nas correrias,
unidas
nas gargalhadas.
Lúcia,
a das negras tranças;
Violeta,
a dos olhos mortos;
Maria,
a mais moça das três.
Era
uma vez três irmãs
unidas
no seu destino.
Cortaram
as tranças de Lúcia,
cresceram
seus seios redondos,
suas
coxas como colunas
morenas
cor de canela.
Veio
o patrão e a levou.
Leito
de cedro e de penas,
travesseiros
, cobertores.
Era
uma vez três irmãs.
E por aí vai, nessa toada que
circunda a redondilha maior, mas sem alcançar a graça da poesia e sua linguagem
circular, metafórica. O texto até segue uma modulação mais ou menos atenta à
sonoridade, embora esteja por demais ligado à sintaxe. Também não deu certo.
Melhor,
então, deixar o velho Jorge Amado no seu lugar? Acho que não... Neste momento
em que se cumprem dez anos da sua morte e 99 do seu nascimento, um interesse
incessante sobre suas criações, já consagradas em reflexões de grandes
intelectuais, se multiplica pelo País e no Exterior. Por isso é que se algum
exemplar do referido A Estrada do Mar viesse a lume, certamente o interesse por
ele seria colossal. Ainda que fosse apenas curiosidade. Perfeito mesmo seria se
alguém que nos lê agora tivesse um exemplar e nos brindasse com uma cópia daquela
jóia. Algum leitor que nos socorresse...
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
O aniversário de Jorge Amado em Ilhéus
O
dia começou com um culto ecumênico em memória de Jorge Amado e prosseguiu com
um café da manhã no Vesúvio. Nesse momento, no Teatro Municipal de Ilhéus,
acontece a abertura do IX Encontro Local do Proler. A palestra central será proferida
pelo escritor Jorge de Souza Araújo, com a temática A narrativa de Jorge e a
representação do Amado sul baiano. Pela tarde haverá mini cursos no Centro de
Convenções. Amanhã, segundo dia do Encontro Local do Proler, haverá a
conferência de Maria de Lourdes Simões, cuja temática é O imaginário do cacau
na literatura: da produção ficcional ao consumo. Pela tarde haverá oficinas com
temáticas variadas. Dias 11, 12, 13 e 14 acontece a apresentação da peça Dona
Flor e seus dois maridos, com grande elenco. Marcelo Faria está muito bem no
papel de Vadinho, Carol Castro no papel de Dona Flor. O Dr. Teodoro é
representado por Duda Ribeiro.
Viva Jorge Amado!!!
Escritor
baiano de maior reconhecimento no país e fora dele, Jorge Amado se vivo
estivesse, estaria completando hoje 99 anos. Na Fundação Casa de Jorge Amado,
em Salvador, começa oficialmente o ano do centenário do escritor, com a
divulgação dos eventos que vão preencher a agenda de comemorações. Antes de
2012 chegar ao fim, Jorge estará por todos os lados: nos museus, cinemas,
teatros e até mesmo em seu carnaval.
Clique
AQUI e confira a programação.
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segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Blues para Marília
Gustavo
Felicíssimo
Penso todos os dias em
Marília.
Sobretudo penso em tudo
que deixei por lá:
os companheiros de
infância, minha mãe,
o pão caseiro feito
pela Tia Vilder,
as férias em Panorama.
Penso principalmente no
cheiro do café;
café bom das lavras da
Fazenda Cascata.
Marília são flashes na memória:
os passeios pela Praça
São Bento,
as visitas ao Paço
Municipal.
Por isso esse velho Blues,
esse reverso n’alma,
o silêncio que revolve a voz
e o olhar demorado para
as coisas sem sentido.
Marília é tudo que ainda
sangra.
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sábado, 6 de agosto de 2011
O Mapa
Mário Quintana
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um
corpo...
(É nem que fosse meu
corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto
Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina
esquisita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos
sonhei...)
Quando eu for, um dia
desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu
ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo
andar!)
E talvez de meu
repouso...
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sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Volta a São Luís
Ferreira Gullar
Mal cheguei e já te
ouvi
gritar pra mim: bem te
vi!
E a brisa é festa nas
folhas
Ah, que saudade de mim!
O tempo eterno é
presente
no teu canto, bem te vi
(vindo do fundo da vida
como no passado ouvi)
E logo os outros
repetem:
bem te vi, te vi, te vi
Como outrora, como
agora,
como no passado ouvi
(vindo do fundo da
vida)
Meu coração diz pra si:
as aves que lá gorjeiam
não gorjeiam como aqui
São Luis, abril, 1996
Em: Muitas Vozes. Editora José Olympio,
9ª edição. Pág. 60.
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quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Evocação do Recife
Manuel Bandeira
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos
armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos
Mascates
Nem mesmo o Recife que
aprendi a amar depois
- Recife das revoluções
libertárias
Mas o Recife sem
história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha
infância
A rua da União onde eu
brincava de chicote-queimado
e partia as vidraças da
casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era
muito velho e botava o pincenê
na ponta do nariz
Depois do jantar as
famílias tomavam a calçada
com cadeiras
mexericos namoros
risadas
A gente brincava no
meio da rua
Os meninos gritavam:
Coelho sai!
Não sai!
A distância as vozes
macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão
(Dessas rosas muita
rosa
Terá morrido em
botão...)
De repente
nos longos da noite
um sino
Uma pessoa grande
dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São
José!
Totônio Rodrigues
achava sempre que era São José.
Os homens punham o
chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser
menino porque não podia
ir ver o fogo.
Rua da União...
Como eram lindos os
montes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se
chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a
Rua da Saudade...
...onde se ia fumar
escondido
Do lado de lá era o
cais da Rua da Aurora...
...onde se ia pescar
escondido
Capiberibe
- Capiberibe
Lá longe o sertãozinho
de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça
nuinha no banho
Fiquei parado o coração
batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro
alumbramento
Cheia! As cheias! Barro
boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte
do trem de ferro
os caboclos destemidos
em jangadas de bananeiras
Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo
da menina e ela começou
a passar a mão nos meus
cabelos
Capiberibe
- Capiberibe
Rua da União onde todas
as tardes passava a preta
das bananas
Com o xale vistoso de
pano da Costa
E o vendedor de roletes
de cana
O de amendoim
que se chamava midubim
e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os
pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava
pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo
na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala
gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção
de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia
onde ficavam
Recife...
Rua da União...
A casa de meu avô...
Nunca pensei que ela
acabasse!
Tudo lá parecia
impregnado de eternidade
Recife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife
bom, Recife brasileiro
como a casa de meu avô.
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quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Canção de Itabira
À Zoraida Diniz
Mesmo a essa altura do
tempo,
um tempo que já se
estira,
continua em mim
ressoando
uma canção de Itabira.
Ouvi-a na voz materna
que de noite me
embalava,
ecoando ainda no sono,
sem que faltasse uma
oitava.
No bambuzal bem no
extremo
da casa da minha
infância,
parecia que o som vinha
da mais distante
distância.
No sino maior da
igreja,
a dez passos do
sobrado,
a infiltrada melodia
emoldurava o passado.
Por entre as pedras da
Penha.
os lábios das
lavadeiras
o mesmo verso entoavam
ao longo da tarde
inteira.
Pelos caminhos em torno
da cidade, a qualquer
hora,
ciciava cada coqueiro
essa música de outrora.
Subindo ao alto da
serra
(serra que hoje é
lembrança),
na ventania chegava-me
essa canção de bonança.
Canção que este nome
encerra
e em volta do nome
gira.
Mesmo que o silêncio a
repete,
doce canção de Itabira.
Carlos Drummond de
Andrade
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Os poetas e as cidades
Cidade
natal de todo escritor, mais dia, menos dia, sempre aparece influenciando a
escrita através da memória afetiva. Às vezes as referências são diretas, às
vezes sutis. Certo mesmo é que tais alusões surgem de modos distintos e a
depender de como é - ou foi - a convivência e a aceitação do autor em seu chão.
Essa relação se torna direta na medida em que se aceita ou se nega a cidade e o
que ela, na visão do autor, tem a oferecer ou não.
No
Brasil, os melhores exemplos são Drummond, que cantou Itabira; Bandeira, que
cantou o Recife, Gullar que cantou São Luiz do Maranhão, entre outros que agora
não me lembro. Octávio Mora – apesar de ser carioca – em Ausência Viva cantou
inúmeras cidades mineiras, de onde descende sua mãe. Com ele inauguro uma série de postagens
que farei durante esta semana com poetas que cantaram suas cidades natais ou
afetivas.
O
leitor, caso queira me enviar algum poema sobre a sua cidade, à medida do
possível, poderei publicá-lo. Eis o e-mail para corrspondência: gfpoeta2@hotmail.com
OURO PRETO – 3
Octávio Mora
I
Esta ciudad, que, periclitante,
ha tantos siglos que se viene abajo.
(Gôngora)
Aqui,
dirão, foi Ouro Preto.
Sobe
e desce a sua sombra
a
procurar-se no tempo,
mas
nada resta. E é tudo.
Suas
íngremes ladeiras
imóveis,
fora do tempo,
bateiam
a água da chuva
para
o fundo mais pesado.
E
as casa desbam, podres.
Igrejas,
quantas igrejas
restam
ainda? Nenhuma
pode
sair do seu adro.
As
igrejas estão presas
nesta
Ouro Preto vazia.
Seus
santos de faces fundas,
de
olhos fitos no invisível
contemplam-se
mortos, mudos.
A
palidez de seus Santos
escorre
pelas paredes
e
tudo é chuva. Nublado,
o
céu de Ouro Preto pesa
e
tudo se desconjunta.
As
casas e os homens, tudo.
A
própria luz desmorona
com
as casas de Ouro Preto.
E
um dia será mais nada.
Escombros,
e sob a terra
profetas,
deuses e santos
apodrecendo-se
mútuos.
O
círculo das montanhas
cada
vez mais apertado
envolve
Ouro Preto morta.
*Para
conhecer melhor Octávio Mora clique AQUI.
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