Reli
o belo soneto, publicado abaixo, pela milionésima oportunidade, e dessa vez
no vôo sem pouso, blog do meu amigo
João Filho. Trata-se do poema nº 5 da série Sete poemas portugueses, inseridos
em A luta corporal, segundo livro de Ferreira Gullar.
5.
Prometi-me possuí-la
muito embora
ela me redimisse ou me
cegasse.
Busquei-a na catástrofe
da aurora,
e na fonte e no muro
onde sua face,
entre a alucinação e a
paz sonora
da água e do musgo,
solitária nasce.
Mas sempre que me
acerco vai-se embora
como se me temesse ou
me odiasse.
Assim persigo-a, lúcido
e demente.
Se por detrás da tarde
transparente
seus pés vislumbro,
logo nos desvãos
das nuvens fogem,
luminosos e ágeis!
Vocabulário e corpo —
deuses frágeis —
eu colho a ausência que
me queima as mãos.
Um comentário:
Gustavo,
Eis uma outra virtude de Ferreira Gullar: Capaz de criar sonetos perfeitos com recursos sofisticados cultos, de rimas de todo matiz, criando uma linguagem e um ritmo falante com a respiração de um verso livre... prosaico, mas sempre belíssimo.
Silvério Duque
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