À Zoraida Diniz
Mesmo a essa altura do
tempo,
um tempo que já se
estira,
continua em mim
ressoando
uma canção de Itabira.
Ouvi-a na voz materna
que de noite me
embalava,
ecoando ainda no sono,
sem que faltasse uma
oitava.
No bambuzal bem no
extremo
da casa da minha
infância,
parecia que o som vinha
da mais distante
distância.
No sino maior da
igreja,
a dez passos do
sobrado,
a infiltrada melodia
emoldurava o passado.
Por entre as pedras da
Penha.
os lábios das
lavadeiras
o mesmo verso entoavam
ao longo da tarde
inteira.
Pelos caminhos em torno
da cidade, a qualquer
hora,
ciciava cada coqueiro
essa música de outrora.
Subindo ao alto da
serra
(serra que hoje é
lembrança),
na ventania chegava-me
essa canção de bonança.
Canção que este nome
encerra
e em volta do nome
gira.
Mesmo que o silêncio a
repete,
doce canção de Itabira.
Carlos Drummond de
Andrade
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