Cidade
natal de todo escritor, mais dia, menos dia, sempre aparece influenciando a
escrita através da memória afetiva. Às vezes as referências são diretas, às
vezes sutis. Certo mesmo é que tais alusões surgem de modos distintos e a
depender de como é - ou foi - a convivência e a aceitação do autor em seu chão.
Essa relação se torna direta na medida em que se aceita ou se nega a cidade e o
que ela, na visão do autor, tem a oferecer ou não.
No
Brasil, os melhores exemplos são Drummond, que cantou Itabira; Bandeira, que
cantou o Recife, Gullar que cantou São Luiz do Maranhão, entre outros que agora
não me lembro. Octávio Mora – apesar de ser carioca – em Ausência Viva cantou
inúmeras cidades mineiras, de onde descende sua mãe. Com ele inauguro uma série de postagens
que farei durante esta semana com poetas que cantaram suas cidades natais ou
afetivas.
O
leitor, caso queira me enviar algum poema sobre a sua cidade, à medida do
possível, poderei publicá-lo. Eis o e-mail para corrspondência: gfpoeta2@hotmail.com
OURO PRETO – 3
Octávio Mora
I
Esta ciudad, que, periclitante,
ha tantos siglos que se viene abajo.
(Gôngora)
Aqui,
dirão, foi Ouro Preto.
Sobe
e desce a sua sombra
a
procurar-se no tempo,
mas
nada resta. E é tudo.
Suas
íngremes ladeiras
imóveis,
fora do tempo,
bateiam
a água da chuva
para
o fundo mais pesado.
E
as casa desbam, podres.
Igrejas,
quantas igrejas
restam
ainda? Nenhuma
pode
sair do seu adro.
As
igrejas estão presas
nesta
Ouro Preto vazia.
Seus
santos de faces fundas,
de
olhos fitos no invisível
contemplam-se
mortos, mudos.
A
palidez de seus Santos
escorre
pelas paredes
e
tudo é chuva. Nublado,
o
céu de Ouro Preto pesa
e
tudo se desconjunta.
As
casas e os homens, tudo.
A
própria luz desmorona
com
as casas de Ouro Preto.
E
um dia será mais nada.
Escombros,
e sob a terra
profetas,
deuses e santos
apodrecendo-se
mútuos.
O
círculo das montanhas
cada
vez mais apertado
envolve
Ouro Preto morta.
*Para
conhecer melhor Octávio Mora clique AQUI.
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