quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

POETA SEM FAZER NADA FAZ POESIA

Curtindo as férias que me dei neste final/início de ano, não tenho feito outra coisa a não ser ler e escrever, além de me extasiar com o inebriante azul do mar de Ilhéus, lógico.
Tenho trocado muitas figurinhas com o Mestre Ildásio Tavares. Numa das oportunidades surgiu um debate sobre “paródia” (ver ao lado o artigo "Jorge Medauar em uma paródia excepcional") e “antipoema”, que consiste em exprimir em versos uma idéia afirmando, com sentido inverso, o que está contido em outro poema. Também entrou na conversa o “eneassílabo”, cuja forma comporta três variações, a original, segundo Ildásio, é o “trímetro anapéstico”. Ele tem esse nome por ser formado por três anapestos com cesura nas sílabas 3/6/9.
Ildásio me mandou um poema seu, muito bonito, “Clara Sombra”, um “trímetro anapéstico” ainda inédito em livro. Com o espírito de “um verso puxando outro” acabei compondo em apenas duas horas um poema com a mesma configuração do poema dele, mas além de anapéstico, um antipoema. Além de um exercício, também foi ótima experiência.
É sempre assim: poeta quando não faz nada, faz poesia. Vamos aos poemas:

CLARA SOMBRA
Ildásio Tavares

Passeavas azul em silêncio
sobre nuvens acima do mar:
tua sombra no mar ia clara,
sutilmente no seu navegar.

Nuvens turvas cobriram o céu,
passeavas no azul a brilhar:
tua sombra no mar ia clara
contra o escuro do céu e do mar.

Pouco importa se o vento do norte
de repente soprou a gelar.
Pouco importa se as trevas da morte
o horizonte vieram tragar.

Tua sombra no mar ia clara.
Minha vida só fez clarear.


CLARO ENTARDECER
Gustavo Felicíssimo

Passeavas, mas não em silêncio,
nesta rua, bem próxima ao mar:
tua sombra no muro escondida
escondia o teu caminhar.

Nenhum pássaro ia no céu,
nem as nuvens te viram passar:
tua sombra no muro escondida
escondeu-se também do luar.

Era triste, tão triste o crepúsculo,
sem o vento primevo a cantar.
Sem a lira dos teus vinte anos
já não fazes o céu desabar.

Tua sombra no muro escondida
escondeu-me do teu caminhar.

2 comentários:

Fabrício Brandão disse...

Gustavo, ficou perfeito o seu "Claro Entardecer". Há ritmo, uma certa musicalidade e, o que é melhor, uma densa aura de subjetividade, coisa que aprecio muitíssimo num poema.

Bravo!

Abraços e um excelente 2009 pra ti!

Gerana Damulakis disse...

Ficou ótimo, já li 2 vezes, irei para mais uma leitura: está que está, simplesmente maravilhoso.