quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

FELIZ ANO VELHO

Clóvis Campêlo


Dia 2 de janeiro de 2008. Ainda repleto do sentimento da confraternização universal, chego na varanda do apartamento, às 5 horas da manhã, e vejo na esquina da rua cinco homens espancando um rapaz franzino. Fico exasperado e grito. Levo uma bronca de Cida e resolvo chamar a polícia. Quando a polícia chega, duas horas depois, todos já haviam ido embora. O espancado, trôpego e ensanguentado, cambaleando pela rua. O agressores, em dois carros, um táxi e uma caminhoneta, onde puseram a bicicleta do agredido e a levaram como um troféu de guerra.
Pouco depois, na padaria, descubro que o rapaz espancado teria tentado furtar o celular de uma empregada doméstica. Por conta disso, foi perseguido, espancado e teve a bicicleta roubada. O povo fazendo justiça com as próprias mãos. Fiquei me perguntando até que pontos temos o direito de agir assim. Que mundo é esse onde as pessoas são capazes de matar ou morrer por conta de um artefato industrializado do mundo consumista? Onde está a paz, o amor ao próximo, a solidariedade humana.
Chego em casa, abro o jornal e vejo a mortandade praticada na Faixa de Gaza. São fotografias de velhos, mulheres e crianças ensanguentando a primeira página dos jornais. Mais uma vez fico indignado e sei que nesse caso não adianta gritar e nem chamar a polícia. Sei também que não adianta tentar interpretar os fatos à luz do noticiário das agências internacionais. O que, na realidade, estará por trás disso tudo? Que interesses espúrios dão a alguém o direito de agredir e matar em nome do que quer que seja? Pergunto a mim mesmo e não encontro respostas.
Tento me acalmar olhando os passarinmhos que, indiferentes à insensatez humana, constroem os seus ninhos na árvore em frente ao prédio. Talvez eles consigam me falar de um futuro esperançoso e menos agressivo. Talvez.
Olhos para e eles e digo: "Feliz Ano Velho, amigos!".

Recife, 2009
Blog do Clóvis: http://cloviscampelo.blogspot.com/

Um comentário:

Clóvis Campêlo disse...

Grato pela gentileza, Gustavo.
Fiquei felicíssimo com a postagem.
Abraços