Sofrendo as contingências do desenvolvimento humano e histórico, parte da poesia de Plínio de Almeida, tardiamente publicada em dois volumes (o segundo ainda a ser publicado), o primeiro, pela família quando do seu centenário, em 2004, sob o título de “Fragmentos”, o segundo, editado pela FICC – Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania, na gestão do antropólogo Flávio Simões, em parceria com a Editus, a editora da UESC, cujos primeiros escritos datam de 1930, possuem linguagem que em alguns aspectos tornou-se arcaica, mas não o suficiente para torná-la hermética ou ultrapassada, haja vista, também, certa coloquialidade e desenvoltura com a qual o poeta trata seus poemas.
Sua poesia transita claramente por certo grau filosófico, existencialista quando sua devoção religiosa emerge e, finalmente, amorosa, romântica, cuja ansiedade essencial é a paixão, de onde surge um “eu lírico” angustiado e torturado pela não materialização dos seus mais profundos anseios, retomando, curiosamente, os temas centrais do Romantismo brasileiro: o sofrimento e a dor do homem, também o escapismo e fuga da realidade.
Desse modo, esse “eu lírico” nos poemas de Plínio de Almeida nos transporta para a realidade de um “eu” psicologicamente projetado, um personagem que frente à aterradora impossibilidade do amor, do intento não alcançado, não consegue senão resignar-se, aceitando seu destino. Assim, é também a amada um ser projetado, como no poema “Mistério”, um soneto que possui flexibilidade surpreendente, onde o autor conserva a cesura, mas com acentuação deslocada, conseguindo ótimos efeitos, cuja estrutura, nele, cede ao impulso da emoção, reproduzindo de modo musical os movimentos mais sutis, mesclando em um decassílabo, três diferentes metros: o heróico, o sáfico e o ibérico.
Pois devo ocultar teu nome completo,
Dos meus versos talvez o melhor tema,
A cujo amparo escreverei, sem custo,
Com o estro em fogo, divinal poema.
Não direi da beleza do teu busto,
Pois farei do silêncio o meu sistema;
Mas se de Fídias1 és paros2 venusto3,
Se és da perfeição jóia suprema,
Como fazer calar do verso a rima
Que te conhece e, séria, te retrata
Entre as mulheres fúlgida obra prima?
Basta na dor que lesta me consome,
Neste simples poema que te exalta,
A falta horrenda de ocultar teu nome...
O texto acima é um fragmento do prefácio que escrevemos para o livro que contém toda a obra encontrada de Plínio de Almeida, sobre a qual nos debruçamos durantes meses fazendo a preparação dos textos, muitos deles com a grafia anterior à reforma ortográfica de 1945, para que a mesma possa vir a publico em breve, através de uma parceria entre a FICC (Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania) e a Uesc (Universidade Estadual Santa Cruz).
Sua poesia transita claramente por certo grau filosófico, existencialista quando sua devoção religiosa emerge e, finalmente, amorosa, romântica, cuja ansiedade essencial é a paixão, de onde surge um “eu lírico” angustiado e torturado pela não materialização dos seus mais profundos anseios, retomando, curiosamente, os temas centrais do Romantismo brasileiro: o sofrimento e a dor do homem, também o escapismo e fuga da realidade.
Desse modo, esse “eu lírico” nos poemas de Plínio de Almeida nos transporta para a realidade de um “eu” psicologicamente projetado, um personagem que frente à aterradora impossibilidade do amor, do intento não alcançado, não consegue senão resignar-se, aceitando seu destino. Assim, é também a amada um ser projetado, como no poema “Mistério”, um soneto que possui flexibilidade surpreendente, onde o autor conserva a cesura, mas com acentuação deslocada, conseguindo ótimos efeitos, cuja estrutura, nele, cede ao impulso da emoção, reproduzindo de modo musical os movimentos mais sutis, mesclando em um decassílabo, três diferentes metros: o heróico, o sáfico e o ibérico.
Pois devo ocultar teu nome completo,
Dos meus versos talvez o melhor tema,
A cujo amparo escreverei, sem custo,
Com o estro em fogo, divinal poema.
Não direi da beleza do teu busto,
Pois farei do silêncio o meu sistema;
Mas se de Fídias1 és paros2 venusto3,
Se és da perfeição jóia suprema,
Como fazer calar do verso a rima
Que te conhece e, séria, te retrata
Entre as mulheres fúlgida obra prima?
Basta na dor que lesta me consome,
Neste simples poema que te exalta,
A falta horrenda de ocultar teu nome...
O texto acima é um fragmento do prefácio que escrevemos para o livro que contém toda a obra encontrada de Plínio de Almeida, sobre a qual nos debruçamos durantes meses fazendo a preparação dos textos, muitos deles com a grafia anterior à reforma ortográfica de 1945, para que a mesma possa vir a publico em breve, através de uma parceria entre a FICC (Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania) e a Uesc (Universidade Estadual Santa Cruz).
[1] Escultor e Arquiteto Grego, considerado o maior escultor grego do período clássico, criador do Parthenon e das estátuas dos deuses gregos.
[2] Referente ao Mármore de Paros. É um material altamente apreciado pela brancura, fineza e semitransparência. Foi explorado em pedreiras na ilha grega de Paros.
[3] Relativo à Vênus, deusa do panteão romano, equivalente a Afrodite, no panteão grego.
2 comentários:
Olá! gostaria de adquirir o livro de Plínio de Almeida. Onde o posso encontrar?
em breve lhe passo o contato de alguma livraria aqui da região.
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