Dizem
os cientistas que é grande o percentual de água no organismo humano. Quando
somos bebês, entre zero e dois anos de idade, a quantidade gira entre 75 e 80%,
mas vai diminuindo com o passar do tempo. Na minha idade, quase um quarentão, o
índice se estabiliza entre 58 e 60%, constatações que me levam a especular que
talvez resida aí o motivo que nos faz sentir aquela gostosa sensação de bem
estar quando envolvidos pela água. Nosso corpo se sente confortavelmente
abraçado e ao mesmo tempo livre para locomoção.
Sinto
que tenho ainda alguns ganhos adicionais quando vou à natação cumprir
diariamente pelo menos uma hora de exercícios físicos. Entre uma braçada e outra
minha mente está desprendida e longe do mundo prático. Naquele momento existo
apenas para superar a mim mesmo. Nenhum pensamento me acomete, nenhum verso me
assalta anunciando o poema que está por vir, nenhuma ideia para a crônica da semana.
O
melhor de tudo isso é que também não existe o trânsito barulhento a me
incomodar, tampouco as músicas que os idiotas colocam a todo volume para sabermos
que ali vai um sujeito com a auto-estima baixa, que precisa do som poderoso
do automóvel para conseguir alguma atenção para si.
Quando
estou nadando, o celular está desligado, eu estou desligado, a internet
desconectada, o mundo para mim está desconectado. Não existe a hipocrisia nas notícias
dos jornais que me tiram do sério ou TVs ligadas anunciando a alienação geral. Os
políticos estão fazendo política, quase sempre em causa própria, mas isso,
naquele momento, também não me incomoda, como não me incomoda o preço do livro
ou do feijão, tampouco se meu professor lê Nietzsche ou Paulo Freire de
joelhos.
Quando
estou naquele mundo, cercado de água por todos os lados, nada encontra lugar em
mim: nenhum enigma, nenhum vazio, nenhum sofismo ou silogismo, o boboca do
Duchamp ou análises filosóficas sofisticadas, exceto a respiração ofegante e
uma vontade tremenda de não voltar, de continuar alheio a quase tudo que os
homens criaram e eu não preciso para viver.
2 comentários:
vc está me convencendo a nadar!
Como é bom fujir dessa bola azul e louca por alguns minutos
Já disse Tales de Mileto ...
Nadar é maravilhoso ... Não fossem esses ombros lesionados eu continuaria fazendo minha travessia da ilha do Boi para a ilha do Frade (vc se lembra ainda?...).
É um vazio que não se obtem facilmente com outras atividades fisicas.
Abraço,
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