Ildásio à minha direita e Heitor Brasileiro Fº à esquerda |
Comecei
a escrever o poema logo que soube da morte do amigo e mestre Ildásio
Tavares, em outubro de 2010, mas como não estava satisfeito com o resultado,
resolvi engavetá-lo. De lá para cá, labutei nele algumas vezes, também sem
alcançar um resultado satisfatório. Agora, quatro meses depois, me parece que
está melhor e pode ser lido pelos amigos como uma homenagem póstuma que faço
àquele que foi um dos mestres vivos que tive.
Longe, longe, vai o amigo.
Além da luz vai cintilando
no arco do tempo soberano.
Não vai triste ou
sorridente,
vai apenas, feito as
marés.
Vai mortalmente vivo,
com seus versos retumbando
entre os que passam e
nunca passam;
cometas do nosso tempo,
turbulentas catedrais
brandindo as vísceras
do indizível
porque a morte é
grande,
enquanto a vida, estupenda.
Longe vai um Obá de
Xangô,
entre o silêncio e a
tempestade.
Lume singrando a
escuridão,
deixa entre nós um bálsamo,
um perfume que nos conforta
mas não compensa a dor
da partida
ou alivia o que não tem
alívio.
Deitou frente à lei da existência,
agora não anda ou está
parado,
não está dormindo ou
acordado.
Está, apenas, e assim
há de ficar
noites, dias, e estes,
com os séculos,
feito um vate vivo,
triunfante.
Ildásio Tavares
foi um escritor com quem me relacionei quase cotidianamente por cerca de dez
anos. Esse convívio me fez crescer muito, não apenas como poeta. Tive a honra
de ler diversos poemas seus em primeira mão, incluindo aí o livro mais recente,
Flores do Caos, uma obra composta por exuberantes sonetos, escolhidos a dedo
por ele mesmo, e estava trabalhando na reunião de sua obra completa.
Ildásio
também leu diversos poemas que escrevi, às vezes atuando como um mestre, apontando
os pontos fortes, os fracos. Da mesma maneira ele fez com muitos poetas da
minha geração aqui na Bahia, sendo, talvez, aquele que mais contribuiu para o
despertar de uma forte consciência literária no nosso meio.
Por
tudo isso foi que fiquei muito honrado por ter sido escolhido por ele para
palestrar sobre sua obra nos Encontros Literários da Academia de Letras da
Bahia e na comemoração dos seus 70 anos no atual Espaço Cultural da
Barroquinha, também em Salvador. Também me sinto honrado por ter lhe
proporcionado uma das últimas grandes alegrias, que foi sua estada aqui no
Principado de Ilhéus, a capital da região onde nasceu (natural que é de
Gongogi) e uma das cidades da sua
predileção, por dois dias, para palestrar no Bahia de Todas as Letras sobre
a obra de Sosígenes Costa, oportunidade em que o levei ao Bataclã e Vesúvio,
locais onde ficou visivelmente emocionado.
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