segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Elegia para Ildásio Tavares


Ildásio à minha direita e
Heitor Brasileiro Fº à esquerda
Comecei a escrever o poema logo que soube da morte do amigo e mestre Ildásio Tavares, em outubro de 2010, mas como não estava satisfeito com o resultado, resolvi engavetá-lo. De lá para cá, labutei nele algumas vezes, também sem alcançar um resultado satisfatório. Agora, quatro meses depois, me parece que está melhor e pode ser lido pelos amigos como uma homenagem póstuma que faço àquele que foi um dos mestres vivos que tive.

Longe, longe, vai o amigo.
Além da luz vai cintilando
no arco do tempo soberano.
Não vai triste ou sorridente,
vai apenas, feito as marés.
Vai mortalmente vivo,
com seus versos retumbando
entre os que passam e nunca passam;
cometas do nosso tempo,
turbulentas catedrais
brandindo as vísceras do indizível
porque a morte é grande,
enquanto a vida, estupenda.

Longe vai um Obá de Xangô,
entre o silêncio e a tempestade.
Lume singrando a escuridão,
deixa entre nós um bálsamo,
um perfume que nos conforta
mas não compensa a dor da partida
ou alivia o que não tem alívio.
Deitou frente à lei da existência,
agora não anda ou está parado,
não está dormindo ou acordado.
Está, apenas, e assim há de ficar
noites, dias, e estes, com os séculos,
feito um vate vivo, triunfante.

Ildásio Tavares foi um escritor com quem me relacionei quase cotidianamente por cerca de dez anos. Esse convívio me fez crescer muito, não apenas como poeta. Tive a honra de ler diversos poemas seus em primeira mão, incluindo aí o livro mais recente, Flores do Caos, uma obra composta por exuberantes sonetos, escolhidos a dedo por ele mesmo, e estava trabalhando na reunião de sua obra completa.
Ildásio também leu diversos poemas que escrevi, às vezes atuando como um mestre, apontando os pontos fortes, os fracos. Da mesma maneira ele fez com muitos poetas da minha geração aqui na Bahia, sendo, talvez, aquele que mais contribuiu para o despertar de uma forte consciência literária no nosso meio.
Por tudo isso foi que fiquei muito honrado por ter sido escolhido por ele para palestrar sobre sua obra nos Encontros Literários da Academia de Letras da Bahia e na comemoração dos seus 70 anos no atual Espaço Cultural da Barroquinha, também em Salvador. Também me sinto honrado por ter lhe proporcionado uma das últimas grandes alegrias, que foi sua estada aqui no Principado de Ilhéus, a capital da região onde nasceu (natural que é de Gongogi) e uma das cidades da sua predileção, por dois dias, para palestrar no Bahia de Todas as Letras sobre a obra de Sosígenes Costa, oportunidade em que o levei ao Bataclã e Vesúvio, locais onde ficou visivelmente emocionado.

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