Devido
ter adentrado na fase aguda do meu trabalho sobre o haikai na Bahia é que tenho
lido muito pouca coisa que não seja concernente ao tema. Mas li “A duração do
dia”, obra mais recente de Adélia Prado, lançada em dezembro de 2010.
O
fato de ser a obra mais recente da autora não significa que ela traga algo novo
para a sua escrita. Em verdade, a receita da sua poesia continua imutável: uma
porção de cristianismo, outra de uma espécie de diário íntimo, e para concluir,
uma pitada de metafísica existencialista (já que todo existencialismo é
metafísico). Agora é só mexer e o resultado é o mesmo impresso em “Bagagem”,
seu livro de estreia, publicado em 1976, por indicação de ninguém menos que
Carlos Drummond de Andrade. Só que a sua poesia já não é mais nenhuma novidade.
Confesso
que esperava mais.
Da
obra, o poema que gostei trás o impensável título Harry Potter, o leitor entenderá por que.
Harry
Potter
Quando era criança
escondia-me no
galinheiro
hipnotizando galinhas.
Alguma força se esvaía
de mim,
pois ficávamos tontas,
eu e elas.
Ninguém percebia minha
ausência,
o esforço de
levantar-me pelas próprias orelhas,
tentando o maravilhoso.
Até hoje fico de tocaia
para óvnis, luzes misteriosas,
orar em línguas, ter o
dom da cura.
Meu treinamento é
ordenar palavras:
Sejam um poema,
digo-lhes,
não se comportem como,
no galinheiro,
eu com as galinhas
tontas.
A autora falando sobre
sua obra:
Um comentário:
Certa vez, um poeta amigo meu me disse que com poesia é assim mesmo: chega-se um momento em que o zenith é atingido ... Depois resta ou a depressão, ou partir para a prosa, insistir na mesmice, suicidio ...
Os dois primeiros livros de Adélia Prado foram os que mais me chamaram a atenção. Não lí todos mas, é como vc disse, nada de novo.
Ainda não li o mais recente mas li uma edição especial da biblioteca Nacional em homenagem à Adélia com poemas inéditos (deu para perceber a recorrência dos temas pontuados por vc).
Sigamos ...
Abraço,
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