sexta-feira, 25 de junho de 2010

Lorca, por Drummond

Relendo algumas coisas de Drummond me deparei com um poema que até então não conhecia, pelo menos não me lembrava dele, afinal são tantos poemas de Drummond para se lembrar, tantos poemas... Falo de “Invocação com Ternura”, que está em Viola de Bolso. Trata-se de um poema onde o poeta exalta a memória de Federico García Lorca, com versos ao melhor estilo do vate andaluz, octossílabos vazados em uma linguagem cotidiana, eu diria. E diria mais, octossílabos que dispensam a cesura medial com a finalidade de dar ao poema maior flexibilidade, imprimindo-lhe, mesmo assim, um andamento consistente. Espero que gostem.

INVOCAÇÃO COM TERNURA

Poeta humílimo, em ritmo pobre,
todavia me sinto rico
se em Granada diviso a nobre
lembrança de ti,Frederico.

Toda essa árabe, agreste pena
de gitana melancolia,
como, à brisa, se faz serena,
vindo-te nos versos, García!

De um vinho andaluz corre a flama
por sobre a taça que se emborca.
Se mil mortes sofre quem ama,
é de amor que inda vives, Lorca.

E já baixam teus assassinos
a uma terra qualquer e vã,
enquanto, entre palmas e sinos,
tu inauguras a manhã.

(Carlos Drummond de Andrade)

2 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Gostei da oportunidade de lembrar o poema.
Abraço para vc e bjinhos para mamãe e filhinha.

Rafael Noris disse...

Que lindo poema, não o conhecia.

Ao Lorca também, há um bom tempo atrás, arrisquei uma homenagem em um terceto:

Lorca somos nosotros! –
las estrellas, el prado verde
y el sangre inocente.

Abraço!