Poema vencedor do Prêmio Bahia de Todas as Letras
Para Tirso de Molina, naturalmente
I
Desejo todas as mulheres
antes mesmo de as conhecer,
eu sou o pastor dos poentes,
o que as leva ao amanhecer;
são mulheres de fino trato
com olores e todo aparato
de lobas em pele de santas,
de putas com os seus pudores
e aquela nudez sacrossanta
vestida de lírio e de orvalho,
de lua e luar pro meu malho.
II
Levadas ao vinho e à mesa
de orgulhosas nunca se fazem,
sabem que o pecado é do corpo,
que a alma pura todas trazem;
pois se há abundância de afeto
lógico é dar-lhe o fim correto,
servir a quem delas precise
e delas se fazem cativos
antes que o ardor agonize,
que o fogo repouse no tempo
e a chama se esvaia no vento.
III
Infinitos por natureza
desejo e cobiça prosperam
onde florescem as paixões,
os prazeres que nos esperam,
as manhãs onde o corpo é luz
e exala o aroma que seduz:
a leveza do novo dia
escorre sobre seios fartos
onde, voraz, a alquimia
de dois corpos entrelaçados
louva os valores remoçados.
IV
O amanhã deve ser agora
o avesso da nossa existência,
e dela o que restar será
produto de eterna imanência,
o que fizermos e o que somos
hoje, tudo ao que nos expomos,
pois hoje é o dia do presente,
de olhar nos olhos da verdade
e concordar que se apresente
em cada corpo um novo porto,
ou então, um sedutor morto.
V
No tártaro estarei tranquilo
frente ao meu fatal julgamento,
nenhum drama, nenhuma culpa,
nos ombros nenhum sofrimento
me descobrirá arrependido,
meu olhar no espaço, perdido,
não poderá ser apontado,
pois a mim quase nada importa
ter a muitos desapontado:
se acaso Perséfone encontrar
um beijo seu eu vou roubar.
VI
E se no céu me deparar
não será por força divina,
mas ao certo, por honra e glória
de alguma santa libertina,
alguém que aspire viver,
amar e lutar por prazer,
por um membro sempre ao seu lado,
em riste, bélico, ardiloso,
no corpo de um Eros alado:
a imagem plena do poeta,
o encontro do alvo e sua seta.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
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