terça-feira, 9 de junho de 2009

O primeiro poeta brasileiro

Como diz a canção “Toda menina baiana”, de Gilberto Gil, “Deus entendeu de dar a primazia/ Pro bem, pro mal, primeira mão na Bahia”. Salvador, cidade fundada por Tomé de Souza, é primeira em tudo. Primeira capital brasileira, foi sede do Governo-Geral por mais de 200 anos (1549-1763). Foi também o primeiro mercado de escravos do Novo Mundo. O envio de milhares de escravos africanos às plantações de cana-de-açúcar convivia lado a lado com a edificação de espaços públicos notáveis: Praça Municipal, Caminho de São Francisco, Largo do Pelourinho, entre outros.
Nesse ambiente nasce o primeiro poeta brasileiro a publicar em livro. Manuel Botelho de Oliveira, natural de Salvador (1636 – 1711), em 1705 publica “Música do Parnaso”, reunindo poemas em português, espanhol, italiano e latim. Também foi o primeiro poeta a cantar a exuberância da natureza do Brasil.
Abaixo, um dos poemas do citado livro.

Persuade a Anarda que ame

Anarda vê na estrela, que em piedoso
Vital influxo move amor querido,
Adverte no jasmim, que embranquecido
Cândida fé publica de amoroso.

Considera no sol, que luminoso
Ama o jardim de flores guarnecido;
Na rosa adverte, que em coral florido
De Vênus veste o nácar lastimoso.

Anarda pois, não queiras arrogante
Com desdém singular de rigorosa
As armas desprezar do deus triunfante:

Como de amor te livras poderosa,
Se em teu gesto florido e rutilante
És estrela, és jasmim, és sol, és rosa?

Fonte: Poetas da Bahia, do Século XVII ao Século XX (2001), Editora Imago. Organização de Ildásio Tavares. Notas Bio-bibliográficas de Simone Lopes Pontes Tavares.

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