sábado, 27 de junho de 2009

O poeta Jotacê Freitas

Jotacê Freitas é excelente cordelista, um mestre, dos melhores que temos na Bahia, tendo publicado quase uma centena (ou mais) de folhetos que ele mesmo edita de maneira artesanal. Aliás, foi participando de uma oficina de Literatura de Cordel, ministrada por ele, que comecei a aprender alguma coisa sobre versificação. Jotacê, que também foi um dos fundadores do SOPA (tablóide literário baiano do qual fui editor), manteve em todas as edições uma coluna dedicada ao cordel.
Mas muitos ainda não conhecem o verso livre do poeta de Senhor do Bonfim. Jotinha possui um senso lírico invejável e seus poemas, bastante influenciados por Leminski, Oswald e Mário de Andrade, muitas vezes se aproximam mesmo do poema piada. Aliás, pelo menos um dos seus poemas está entre aqueles de minha preferência.
Os poemas abaixo são do livreto “entrelinhas”.

deQuandoEuEraPequeno

O meu maior sonho
era usar calça comprida
para fazer pose
para as meninas crescidas.

Caminhava muito
pela estação do trem
e de vez em quando batia a cabeça
nos postes dos telégrafos.
Minha mãe bradava
que eu só podia
ter minhoca na cabeça.
Meu pai amenizava:
deixa o menino, mulher,
quem sabe ele terá
mente fértil?


daJuventude

tudo imediato
pra já

tudo a jato

como se o tempo
não se acumulasse
passo a passo


daPreservação

saindo da toca
um lagarto
se abisma com a destruição
seu lar
seu ninho
sua casa
é canteiro de construção
com as unhas
na pedra cravadas
lamenta
a própria extinção.

Recado pro Jota:
cadê aquela rabada com agrião e cachaça, poeta?

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