quinta-feira, 3 de março de 2011

Quem Poderá nos Socorrer?


Nunca me senti tão inseguro. A violência que campeia a Bahia é fruto de grande descaso não apenas com a segurança, mas, sobretudo, com a educação.
Tenho a convicção de que a péssima situação encontrada em nossas escolas e a falta de apoio, sobretudo aos professores, que são obrigados a conviver cotidianamente com pressões políticas que facilitam a vida do alunado por conta dos índices do famigerado IDEB que precisam, a todo custo, serem elevados ano após ano, ainda que à custa do analfabetismo funcional da população, está na raiz do problema.
Para ser mais claro: as escolas estão aprovando alunos que não possuem a menor condição de avançar. O resultado prático reside no fato de que, sabendo de tal postura, parte dos jovens quando comparecem à escola, nem sempre participam das aulas e não se dedicam ao estudo.
Isso porque, quanto menos repetências e desistências a escola registrar, melhor será a sua classificação, numa escala de zero a dez. Sendo assim, se a escola passar seus alunos de ano sem que reúnam condições, ela estará colaborando para que o estado alcance suas metas e receba mais recursos.
            Desse modo, nossas salas de aula estão sendo habitadas por marginais mirins que desafiam o ambiente educacional, não colaborando com os professores, e o que é pior, levando armas e drogas para um espaço que deveria ser sagrado, mais sagrado que qualquer templo religioso.
Prova inconteste do que afirmo é o fato ocorrido com uma amiga, onde um aluno, insatisfeito por ter sido colocado para fora da sala por azucrinar o ambiente, atirou nela uma grande cesta repleta de lixo e dejetos de alimentos, fato que foi contemporizado pela direção escolar que, por sua vez, precisa aprovar o aluno ao final do ano, transformando-o em número saudável para o FUNDEB.
Por isso, e por outros motivos que não cabem nessa crônica, a notícia de que nos últimos dez anos a Bahia passou de décimo para o quarto estado mais violento do país, não me espanta.

3 comentários:

Hilton Deives Valeriano disse...

O descaso com a educação é característico de países como o Brasil. Um país miserável! Que só valoriza a educação com comerciais demagógicos e discursos políticos em época de eleição. Depois: economia, economia...

Fátima Santiago disse...

Como já dizia o velho Cae, na canção Haiti:
"Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Mas não deixa de ser edificante a sua preocupaçâo, Gustavo.
Abraço.

OFICINA DE CORDEL disse...

Caríssimo Felicíssimo, olha você mais uma vez tocando na ferida. Esta é a realidade que extrapola inclusive as orientações do MEC. Em Salvador já existem gestores públicos propondo a reprovação zero, aprovando, inclusive nos 3º e 5º anos, mesmo que os alunos nada saibam, por diversos motivos que não cabem aqui agora, enquanto as redes privadas lutam contra estas aprovações automáticas. E tem uma incoerência enorme no meio de tudo: o índice do IDEB é auferido através de uma prova nacional aplicada com os alunos dos 3º e 5º anos, o que mostra o baixo nível da educação na Bahia, enquanto a provação por sí só apenas amplia o índice de aprovados tão propalado pelos governantes, mas que não ajuda em nada.
Jotacê - Professor e poeta