Conta
Ferreira Gullar que durante a ditadura militar no Brasil foi convidado a fazer
parte do MR-8 e pegar em armas na Guerrilha do Araguaia. Sabiamente não entrou
naquela furada, pois a sua trincheira estava onde melhor poderia
colaborar, na poesia. Caso a escolha fosse outra, provavelmente não teríamos
uma obra pulsante e vigorosa como é, por exemplo, Poema Sujo.
Do
mesmo modo que Gullar, muitos poetas ficaram para contar, cada um à sua maneira,
a história e expor as marcas desse período que permaneceram no tecido inconsciente
da nação, uma vez que o discurso poético naquele momento estava permeado por
uma natureza de essência política e humanitária que procurava combater as iniquidades.
Entretanto,
foram poucos os poetas que conseguiram aliar o discurso social à estética
literária, um deles foi o baiano Adelmo Oliveira, pois não justificou seus
pressupostos com finalidades alheias ao que é decisivo e inalienável em uma
obra de arte, o seu plano estético.
Os
poemas criados por Adelmo nessa época estão reunidos em “O Som dos Cavalos Selvagens”,
cujo título tomo emprestado para essa crônica. São poemas que trazem aquela ideia
de Bandeira sobre o poeta sórdido, que é aquele cuja poesia traz a marca suja
da vida (Nova Poética).
Pois
bem. Relendo aleatoriamente, e pela enésima vez, alguns poemas da sua obra
reunida (e muito mal editada pela Escrituras) em “Canto Mínimo & Poemas da
Vertigem”, tive aquela impressão benfazeja que apenas o grande poeta consegue
nos proporcionar, justamente por ter a consciência de que para impressionar
nossa percepção, a mensagem, a ideia, que pretende exprimir em sua obra deve
estar inseparável do código em que está envolta. Ou seja: forma e conteúdo constituem
uma unidade, uma construção com estrutura e significado, que potencializa a comunicação
com o leitor.
É
justamente por essas qualidades que o poeta e crítico Izacyl Guimarães
Ferreira, ao se referir à obra de Adelmo Oliveira, com muita propriedade afirma
que chega a ser deplorável que um poeta deste porte, não tenha o
reconhecimento (nacional) da sua
arte.
O Som dos Cavalos Selvagens
(Adelmo Oliveira)
Dentro da noite
e pelo dia
um eco surdo
de ventania
Sobe a montanha
transpõe o vale
– A fúria avança
– A sombra invade
Marca no tempo
finas esporas
– Um cata-vento
no fio das horas
Patas de ferro
porta fuzis
deixa no vento
a cicatriz
Dentes de faca
olhos de fogo
cuspindo raiva
do próprio rosto
Destrói cidades
e espanca a luz
por onde passa
finca uma cruz
Tempo de guerra,
este é meu tempo
– Cavalos de ódio
no
pensamento
Clicando
AQUI poderá baixar o livro na íntegra.
Um comentário:
Pedro Lira, doutor em poética, organizou a antologia da geração sessenta no Brasil que vai sair pela Global Editora. Nesta antologia Adelmo comparece para mostrar ao Brasil o quanto a sua poética é valiosa, para nós baianos seus fãs, e o Brasil que ainda não lhe conhece. Minto, Manuel Bandeira lhe ourtorgou um prêmio na distante década de 60. Adelmo, com sua natureza eremita e sem puxar saco de ninguém vem construindo há trinta anos uma voz poética inigualável em terras baianas onde todo mundo quer ser poeta na tora. Miguel Carneiro
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