terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O POETA FLORISVALDO MATTOS

O poeta baiano Florisvaldo Mattos (1932), Grapiúna natural de Água Preta do Mocambo, hoje Uruçuca, integrou juntamente com outros jovens e talentosos escritores a conhecida “Geração Mapa”, cujo nome tem origem em um ontológico poema de Murilo Mendes. Liderados por Glauber Rocha, tal grupo ficou assim conhecido por publicarem entre 1957 e 1959, três números de uma revista (MAPA) que permanece até hoje como referência para a historiografia da literatura baiana. Toda a sua poesia possui coloração universal, onde estão inseridos grandes temas da poesia em todos os tempos, entretanto, Florisvaldo pinta de maneira incomparável a aldeia grapiúna, com grande sentimento de mundo, onde as questões sociais adquirem relevo e tonicidade, quer cantando a saga do cacau, sua natureza, costumes ou personagens, e até mesmo seus poetas, como é o caso de “A Hora da Rua”, um poema todo em redondilha maior, dedicado ao inesquecível Firmino Rocha, poeta com quem teve contato durante os anos 1950, onde observamos uma refinada intertextualidade com o célebre poema “Deram um Fuzil ao Menino”. Conheçam os poemas.

A Hora da Rua
Florisvaldo Mattos

Com seus cavalos de lata
a aurora cresce na rua.
- Que é do canto esperado?
- Que é da rosa da rua?

A aurora cresce no mar
nascem mil lírios na rua.

Faz-se um menino soldado
para levar a bandeira
ao campo de rosas negras.
Ergo o olhar: vejo um fuzil.
Um menino fez-se soldado
para salvar a esperança
no mar no campo na rua.

Vai chegando o branco barco.
Abaixo as rosas de lava!

Venham ver a cor dos lírios.
Os pássaros virão à festa.
Eu ouço o canto esperado.


Deram um Fuzil ao Menino
Firmino Rocha

Adeus luares de Maio.
Adeus tranças de Maria.
Nunca mais a inocência,
nunca mais a alegria,
nunca mais a grande música
no coração do menino.
Agora é o tambor da morte rufando
nos campos negros.
Agora são os pés violentos ferindo
a terra bendita.
A cantiga, onde ficou a cantiga?
No caderno de números o verso
ficou sozinho.
Adeus ribeirinhos dourados.
Adeus estrelas tangíveis.
Adeus tudo que é de Deus.
Deram um fuzil ao menino.

Mais em: www.jornaldepoesia.jor.br/floris.html

Nenhum comentário: