segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Algumas considerações de Ivan Maia, poeta e Mestre em filosofia, sobre o meu poema “Radiografia”.

ALIÁS, INDO ALÉM DISSO
Ivan Maia

No poema muito mais por dentro do que aconteceu de significativo na história, o poeta ainda não estava no mundo e, no entanto, hoje habita a consciência histórica de seu tempo munido das informações mais relevantes ao seu pensamento crítico.
Os feitos de grandes personagens, ainda que às vezes mantidos sob olhar neutralizador de suas influências, tornam-se matéria de uma poesia que se apropria dos acontecimentos para extrair-lhes um questionamento decisivo para nossas vidas: onde estávamos enquanto grandes feitos eram realizados, o que fazíamos de nossas vidas então?
A repercussão das grandes realizações depende daqueles que são responsáveis pela difusão de notícias e informações tanto quanto dos que a recebem e têm a função de digeri-las. E é desse modo que temos acesso à mensagem de Gustavo nesse poema, que se destina, por um lado, às gerações mais novas, que ainda não estavam aqui quando muita coisa importante aconteceu e aos quais cabe apropriarem-se de tais acontecimentos através do interesse pela história dos seres que marcaram a vida de nossa gente. Por outro lado, essa mensagem paradoxal (não meramente contraditória, ou ambígua) também se dirige às gerações mais velhas que já estavam “aqui”, mas que em muitos casos não “estava nem aí” para o que ocorria de importante. E poderíamos, do mesmo modo, considerar ainda um terceiro sentido presente nos dois últimos versos, nos quais o poeta aponta para uma liberação necessária em relação ao sentido histórico, que pode ser útil à vida em seu movimento de auto-superação, mas do qual precisamos nos desprender para não ficarmos sobrecarregados por ele. Isso é o que permite uma leveza de espírito isenta de ingenuidade, pois possibilita incorporar o que do passado foi e é importante para o presente enquanto se prepara o porvir, ou seja, ir além de seu tempo.


RADIOGRAFIA

“É para você que escrevo, hipócrita”
Ana C

Eu não vi Chico Landi correr
Nem o homem pisar na lua
Candeia sambou em cadeira de roda
Mas isso eu também não vi
Eu não vi os socos no ar de Pelé
Nem o vôo de Castilho
Eu não vi Lupicínio cantar Vingança
Nem joão desafinando
Eu não vi os POETAS NA PRAÇA
Ou Geraldo Maia recitando Geração de Março
Charles Chaplin no Grande Ditador eu não vi
Nem Glauber, Deus e o Diabo
Eu não estava aqui
Eu não estava nem aí...

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