quarta-feira, 14 de março de 2012

Louvação a Castro Alves


Hoje, 14 de março, é o dia nacional da poesia, instituído em memória e celebração do nascimento de Castro Alves no ano de 1847, na Fazenda Cabaceiras, próximo a Nossa Senhora de Conceição de Curralinho, localidade que atualmente leva seu nome, aqui na Bahia.

Castro Alves queria ser um grande poeta, sobretudo um poeta político, que contribuísse para mudar o estado de opressão em que viviam os escravos, pois via a poesia como um meio, não como um fim em si. Segundo Alberto da Costa e Silva, no perfil que fez para a Companhia das Letras sobre o poeta maior do Brasil, “foi disso que nos quis avisar, ao pôr como epígrafe de A Cachoeira de Paulo Afonso dois parágrafos de Heine”. O primeiro diz tudo: “Não sei se mereço que algum dia se deponha uma coroa de louros sobre o meu túmulo. A poesia, apesar de todo o meu amor por ela, não foi para mim senão um meio, consagrado a uma finalidade santa”. No segundo confessando que tudo o que desejou foi ser “um bravo soldado na guerra para a libertação da humanidade”.
Em que pesem tais considerações, devemos observar que mesmo tendo pronto o livro “Os Escravos”, Castro Alves empenhou todos os esforços para publicar primeiramente “Espumas Flutuantes”, obra que não deixa dúvidas sobre o domínio estético e a versatilidade que possuía. Mas foi como o Poeta dos Escravos que Castro Alves perpetuou-se na literatura.
Faleceu em 6 de julho de 1871, aos 24 anos, tendo deixado em tão pouco tempo de vida uma obra monumental, capaz de colocá-lo no panteão da poesia universal graças, sobretudo, ao se olhar para o povo oprimido e versos como os de Bandido Negro, considerados como de incitação ao crime, por louvar os grupos de africanos que, armas em punho, atacavam as fazendas e deviam, sem dúvida alguma, enfurecer os escravocratas.

Bandido Negro (excertos)
Castro Alves

Trema a terra de susto aterrada...
Minha égua veloz, desgrenhada,
negra, escura nas lapas voou.
Trema o céu... ó ruína! ó desgraça!
Porque o negro bandido é quem passa,
porque o negro bandido bradou:

Cai orvalho de sangue do escravo,
cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
cresce, cresce, vingança feroz.
(...)
E o senhor que na festa descanta
pare o braço que a taça alevanta,
coroada de flores azuis.
E murmure, julgando-se em sonhos:
"Que demônios são estes medonhos,
que lá passam famintos e nus"?
(...)
Somos nós, meu senhor, mas não tremas,
nós quebramos as nossas algemas
para pedir-te as esposas e mães.
Este é o filho do ancião que mataste.
Este - irmão da mulher que manchaste...
Oh! não tremas, senhor, são teus cães.
(...)
São teus cães, que tem frios e tem fome,
que há dez séculos a sede consome...
Quero um vasto banquete feroz...
Venha o manto que os ombros nos cubra.
Para vós fez-se a púrpura rubra.
Fez-se o manto de sangue para nós.
(...)
Meus leões africanos, alerta!
Vela a noite... a campina é deserta.
Quando a lua esconder seu clarão
seja o bramo da vida arrancado
no banquete da morte lançado
junto ao corvo, seu lúgubre irmão.
(...)
Trema o vale, o rochedo escarpado,
trema o céu de trovoes carregado,
ao passar da rajada de heróis,
que nas éguas fatais desgrenhadas
vão brandindo essas brancas espadas,
que se amolam nas campas de avós.

Cai orvalho de sangue do escravo,
cai, orvalho, na face do algoz.
Cresce, cresce, seara vermelha,
cresce, cresce, vingança feroz.

2 comentários:

jorginho da hora disse...

Eu não canso de ler esse poema.

Sol Maria Rodrigues disse...

é belíssimo mesmo!