Entrevista
concedida a Laura Greenhalgh e Sérgio Augusto. Publicada no ESTADO DE S. PAULO
em 14 de Agosto de 2005
E assim publicitários, políticos,
homens da mala e secretárias assaltam o País e vão dando razão à máxima de
Millôr: o ser humano é inviável
Enquanto
a crise política continua provocando estados de comoção e desapontamento,
Millôr Fernandes, 82 anos, afirma de boca cheia: "Sou indecentemente
feliz". Alienado? Jamais. Está de olhos e ouvidos atentos a tudo - em
particular aos tropeços e contradições dos que freqüentam as salas das CPIs ou
o púlpito dos comunicados oficiais. Entre delcídios e delúbios, o "guru do
Méier" se esbalda. "Lula não tem consciência da própria
ignorância", analisa. "Chávez é um patife", assume sem medo de
ser atrevido. "Jefferson ainda vai entrar para a História", avisa.
"A esculhambação no País é geraaaal", diz expandindo a vogal, num
exagero calculado.
O
olhar fixo na CPI começa cedo, ou melhor, começa assim que um amigo do peito
faz soar o lembrete pelo telefone: "Já começou o depoimento da Zilmar. Vai
lá, liga a tevê". No ateliê em Ipanema, onde Millôr trabalha todos os
dias, as questões de ordem de Brasília começam a provocar o mestre. A cada uma
daquelas afirmações que não passariam pelo detector de mentiras, Millôr rebate
que a canalhice é imensa, a ignorância não tem limites e o ser humano é
inviável. Dispara palavrões com sua balística demolidora e confirma-se no posto
de temível observador (ou seria dissecador?) da cena política nacional.
Por
que se sente "indecentemente feliz"? "Porque não vivo para
comprar iate e tenho dinheiro para pagar minhas contas", explica o
jornalista, escritor, dramaturgo, ilustrador e requintado tradutor dos
clássicos, que não gosta de ser chamado de erudito. "Sou um oligofrênico
topográfico. Me perco até em porta giratória", caçoa. Ateu confesso,
carrega na alma amuletos contra o politicamente correto. Odeia certinhos ("e
o ACM Neto com aquelas roupinhas, hein?") e amaldiçoa a publicidade
("ela vende mentiras"). Entre os cacoetes que cultiva, sente um
prazer incomensurável de dizer que "Hitler era viado". Tiradas assim
recheiam a coletânea Todo Homem é Minha Caça, que a editora Record acaba de
relançar. É livro de 1981, que não perdeu nem o viço nem a verve do autor.
Nesta
entrevista exclusiva para o Aliás, Millôr pede que seus palavrões não sejam
substituídos pelo "eufemismo dos três pontinhos". E a primeira
pergunta, leitores, é do entrevistado: "Vamos começar a entrevista assim:
Freud era um gênio ou um bobalhão?".
Tudo bem, Millôr, podemos começar
por aí. Gênio ou bobalhão?
Nem
uma coisa nem outra. Lembra as brigas que Freud tinha com o Jung? No fundo, era
briga de duas bichas-loucas. Uma historiadora italiana conta uma passagem ótima
com o neto do Freud. O neto pergunta: "Vovô, mulher tem perna?". Faz
sentido. Freud nunca viu perna de mulher e fez sua obra girar em torno do sexo.
Na época dele, as pessoas iam para a cama e nem tiravam a roupa, a relação era
um extra. Em compensação hoje chegamos a um ponto que, se você quiser viver um
pouco mais calmo, tem de evitar o sexo, porque a transa é fácil, é imediata.
Quando
Freud foi para os Estados Unidos com Jung, o reitor de uma universidade quis
homenageá-lo, afinal, os americanos se curvavam à psicanálise como ciência.
Como sempre, Freud "medrou" e não foi à cerimônia. Jung foi. O reitor
fez as apresentações e no final errou. Pediu uma salva de palmas para o doutor
Sigmund Freud. É assim que se faz: as pessoas jogam sua crença numa coisa
científica e depois votam no Lula.
Pronto, entramos na política. Você
tem acompanhado as CPIs?
Acompanho
tudo. E alguém consegue deixar de ver? Que país maravilhoso é esse Brasil, que
acontece essa esculhambação homérica e até agora não tem ninguém preso... Os
contestados, os ameaçados, todos falam de dedo em riste!
Tempos atrás você teria dito que o
Brasil é ingovernável. É mesmo?
Não
disse que o Brasil é ingovernável. Não diria isso até porque o problema não é o
Brasil. Veja o que aconteceu na Espanha pós-Franco. Era uma roubalheira
desenfreada com o González. Aquela gente roubava dinheiro em parceria com o
ETA! Era dinheiro para dar armas, dinheiro para tirar armas... Na Inglaterra, o
filho da senhora Thatcher meteu a mão. O filho do Kofi Annan também, e o pai se
faz de distraído.
Ou seja, roubalheira não é coisa
nossa?
O
que eu acho é que roubalheira, no Brasil, é algo desumano. A corrupção na época
de Henrique VIII era briga de foice. O papado, aquela coisa sórdida de tirar
dinheiro de todo mundo. Você tinha os pecadores, os pecaminosos e os puros. O
negócio das indulgências prosperou porque as pessoas queriam morrer em pureza.
Acabaram por descobrir a pureza absoluta, que é a do Cristo, e assim
inauguraram o Banco Central das indulgências. O sujeito era considerado louco,
tísico ou leproso se não desse a grana. Já no século 18, quando a burocracia
foi criada, aí despejaram veneno no mundo. O burocrata é o fim de linha. É o cara
que fica na ante-sala e não deixa você falar com quem decide.
A mala é o símbolo dessa crise.
Mala para caixa dois, para recolher dízimo dos fiéis, para empréstimo...
Reedita-se a antiga figura do "homem da mala", o sujeito que paga
tudo, que arca com as despesas...
Um
momento. Quando eu vi a mala com que os agentes da Abin grampearam aquele cara,
não acreditei. Eles compraram aquela coisa de um contrabandista do Paraguai, só
pode ser. Hoje você filma o sujeito com uma microcâmera instalada no relógio de
pulso, e a imagem é digital, o som, perfeito... O que era aquela mala da Abin?!
Pois o presidente jura que não tem
nada a ver com isso tudo.
As
pessoas não gostam quando falo isso, mas 95% da humanidade é absolutamente
idiota, e os outros 5% são discutíveis. O Lula veio de baixo, é um homem de
origem humilde, mas o partido dele tem 25 anos. Se não foi no primeiro, no
segundo ou no terceiro ano, em algum momento ele passou a receber dinheiro, até
como forma de salário do PT. Ora, Lula tem 59 anos. Há 25 anos, tinha 34. Com
essa idade ainda se pode ir para o colégio.
Passei
mais fome do que ele, a diferença é que eu era carioca. Meu pai morreu quando
eu tinha 1 ano, minha mãe, quando eu tinha 10, nós descemos de classe média
para proletariado e depois para lumpesinato. Não havia literalmente o que
comer, e nem por isso fiquei me queixando. Quando passei de 100 para 300 réis
de salário, ia para o curso do Liceu de Artes e Ofícios e pagava para estudar.
Não fiquei esperando o Estado bancar.
Você acha que o presidente tem essa
mágoa não resolvida, a mágoa da miséria?
Hitler
também veio de baixo. Era um filho da puta no meio daquela Áustria cheia de milionários.
Agora fica essa conversa de que a elite não engole o Lula. Acabei de escrever
uma nota para a Veja com a relação de lucros dos seis ou sete maiores bancos do
País. A lista da elite. O que menos lucrou declarou ganhos da ordem de R$ 1,5
bilhão! Daí escrevi: enquanto isso, um bando de vagabundos vai ao Banco Central
de Fortaleza e rouba R$ 160 milhões. Mas já se disse: "O que é um assalto
ao banco diante de um banco?".
Não há mesmo jeito de acabar com a
corrupção?
Corrupção
é câncer que não se extirpa. O pessoal se recolhe por um tempo, mas depois
volta a meter a mão. Tenho uma idéia: o Brasil deveria instituir o voto contra.
Não tem o voto a favor? Então, quero votar contra o Maluf, por exemplo. Duvido
que o Garotinho se eleja para alguma coisa.
O que você diz das promessas de
faxina ética, das manifestações populares, das convocações pela internet? Vem
aí uma onda patriótica?
Tem
esse movimento pedindo paz, que coisa linda, e os caras lá do morro vendo tudo
e dando risada. Conhece aquela frase? "O patriotismo é o último refúgio do
canalha." E eu acrescentaria: no Brasil, é o primeiro. Agora tem a
denúncia de que pagaram despesas do presidente no valor de R$ 29 mil. Não é
nada na escala da roubalheira. Mas, como o salário mínimo é R$ 300, R$ 29 mil
equivalem a oito anos de trabalho de uma pessoa que vive com essa mixaria!
Você teve problemas com o
ex-ministro Aldo Rebelo?
Escrevi
alguma coisa quando ele fez a tal lei proibindo estrangeirismos. Ora, quando os
portugueses chegaram a este país trouxeram a língua deles, e pronto. Se não,
até hoje estaríamos falando nhangatu, na base do "nós não sabe falar
português".
Mas de onde veio a bronca do
ministro?
Ele
baixou a tal lei e eu escrevi que aquilo era idioletice (sistema lingüístico de
um indivíduo). O homem se sentiu ofendido e me processou. As pessoas não têm
obrigação de saber o que é idioletice, mas o ministro tem. Ele pediu uma
indenização de R$ 30.200, já quantificando o que queria receber! Não disse que
ele é um idiota, mas pergunto: no politicamente correto não se pode dizer que
um sujeito é idiota? Esse pessoal do governo não sabe que existe poesia, prosa
e língua falada. Você escreve poesia. Você escreve prosa. Mas você fala a
língua. Fala e vai modificando a língua.
O ministro foi mexer justo com
você, um tremendo frasista.
Gosto
da precisão da frase. Sartre diz: "O inferno são os outros". Certo,
mas eu completo: "E o céu também". Há o dito popular: "Cão que
ladra não morde". Eu acrescento: "Enquanto ladra". A igreja
prega que "o dinheiro não é tudo". Não é mesmo, dinheiro não compra a
juventude, o vigor físico, a inteligência, a felicidade, etc., etc. Então eu
diria assim: "Tudo é a falta de dinheiro".
Como ficou o processo?
Respondi
com um arrazoado para o ministro, queria ver advogado fazer algo parecido.
Mostrei o que é idioletice, fiz um histórico da palavra em várias línguas, fui
chamando o sujeito de ignorante de alto a baixo. Entreguei o arrazoado para o
departamento jurídico do jornal e esqueci o caso. Mas veja a truculência do
método: se eu escrevi um artigo e fui processado, o que dizer da imprensa? Ela
pode ser intimidada por esses caras. Eles não sabem que sou uma pessoa honesta
por imposição do mercado.
Como assim?
Toda
vez que me disponho a ser corrompido, não chegam no meu preço. Quando me dão 5
mil, pode ter certeza que eu tinha pensado em 10 mil. Daí vem um sujeito e me
oferece 20 mil, eu que não estou acostumado já vou logo perguntando: o que é
que você está pensando de mim?! Vou contar uma piada. O camarada embarca num
avião e vai para Nova York com uma mulher linda na poltrona ao lado. Viaja
horas entusiasmado, louco para puxar conversa com aquele mulherão. Faltando uma
hora para terminar o vôo, toma coragem e diz: "Olha, estamos chegando,
você é linda, maravilhosa, se eu lhe oferecer US$ 100 mil, você passa uma noite
comigo?".
A
mulher olha para ele, pensa e acaba aceitando, afinal, são US$ 100 mil. Passa
meia hora e o sujeito abre o jogo: "Estou perdido de encanto por você, mas
na verdade eu só posso oferecer US$ 10 mil". A mulher pensa, pensa, vá lá,
está bem. Quase na hora da chegada, o sujeito diz que está em dificuldades
financeiras, que pode apenas oferecer US$ 1.000 dólares pela noite. A mulher
reage: "O quê?! Está pensando que eu sou uma prostituta?". Ao que o
sujeito responde: "Isso ficou estabelecido na primeira conversa. Agora
estamos apenas discutindo o preço".
Millôr, você que é tradutor de mão
cheia, que tem interesse pelas palavras, como se sente assistindo às CPIs? A
língua tem sido maltratada?
Completamente.
Não só pelos depoentes como pelos interrogadores. Eles não batem "lé"
com "cré", não há preposição no lugar certo, não tem plural, não tem
verbo no tempo adequado... Sabe o que escrevi sobre essa turma? "Estão
convencidos de que a regência acabou com a proclamação da República". Este
país é incrível... Daí vêm os gays e começam a bancar apostas para saber quem é
o mais gostosão da CPI. Parece que o Delcídio está ganhando, com algo em torno
de 53% dos votos, contra Antonio Carlos Magalhães Neto, que teria 38%. Ah, o
ACM Neto, com aquelas roupinhas... Deve estar furioso.
O que você acha das metáforas do
presidente?
Futebolísticas.
Antes mesmo que ele chegasse ao poder supremo, eu disse do Lula: "A
ignorância subiu-lhe à cabeça". Isso não é piada! O homem popular é
"endeusável" enquanto está no popular. Quando está, por exemplo, no
botequim. Mas não se deve tirá-lo do botequim para discutir na Academia
Brasileira de Letras, porque um mínimo de coisas esse sujeito tem de saber. Tem
de saber que houve gregos, romanos, a Renascença. Tem de saber!
O que é cultura, Millôr?
Vou
lhe dizer. Estou lendo o novo livro do Stephen Hawking, aquele cientista todo
aleijadinho. Só um idiota vai achar que se pode ler esse livro de ponta a
ponta. Então leio cinco páginas hoje, dez amanhã e, quando terminar, se tiver
compreendido 20%, será muito. Cultura é isso: entender a extensão da própria
ignorância. Lula não tem consciência da sua ignorância.
Seria o "endeusamento" do
homem popular?
É
o que estou dizendo. Quando ele começou a falar para platéias estrangeiras
percebendo que não precisaria saber inglês, francês ou alemão, porque contava
com a tradução simultânea, quando se deu conta de que Bush só fala bushismos e
que o Chirac só está a fim de falar francês, daí relaxou. Sentiu-se bem entre
os monoglotas do poder. O que o Lula não sabe é que todo império é monoglota -
sempre. Os portugueses chegaram dominando pela língua. Lula é fronteiriço.
O que é ser fronteiriço?
Quando
está no meio dele, usando metáforas futebolísticas, ele se sai bem. Quando o
meio é outro, ele se perturba. Pelos discursos que faz, o que se nota é a falta
de coerência. Por exemplo: o caso do filho dele, acusado de ter montado uma
empresa com favorecimentos. Numa hora, Lula discursa e diz que é preciso apurar
tudo. Meia hora depois, reaparece dizendo que a família está sendo atacada. E
fala, fala, ininterruptamente! É fronteiriço, não sabe o que está lhe
acontecendo.
Como uma derrocada do Lula vai
bater no povão? O self-made man à brasileira é um projeto que não deu certo?
Espera
aí, self-made man é outra coisa, não é o sujeito que chega no topo de qualquer
maneira. Você pode me dizer: Millôr, você é um preconceituoso. Não sou. A vida
é normativa, como a própria Presidência. Por exemplo, o sujeito não pode ser
presidente com menos de 35 anos. Isso é um critério. Você não operaria seu
cérebro com um médico sem diploma. Nem voaria num avião conduzido por um
sujeito que não é piloto. Imagina só: o piloto não aparece e a companhia aérea
recruta um faxineiro do PT que estava ali, dando sopa. Você embarcaria? O povão
tem o direito de eleger quem quiser e pode fazer burrada. No caso do Lula, não
foi só o povão, não. Fomos todos nós.
Você está dizendo que o
"povão" vota mal?
Vota
por questões sensoriais. Não é só aqui. Na Alemanha de hoje, um candidato
neonazista pode não ganhar, mas vai ter uma boa votação. O cara não precisa nem
ter aquele bigodinho, aquele cabelinho de viado que o Hitler tinha. Aliás, abre
parêntese: Berlim tem 3 milhões de habitantes. Sabe quantos são os gays
confessos? Uns 300 mil, fora os que estão no armário, os que não saíram do
bunker. Hoje, em certas partes da Europa, como já não se estigmatiza ninguém, o
sujeito deve declarar sua opção preferencial ao ocupar um cargo público.
Pergunto: se o camarada diz que é, mas não é, seria falsidade ideológica? Fecha
parêntese.
A crise política pode dar margem ao
aparecimento de um novo Collor?
Não
tem dúvida. Aqui no Brasil, quando se passa por um período de esculhambação
generalizada, a sociedade cobra lei e ordem. Daí pode pintar um tipo desses,
sim. É o perigo. Até hoje na Itália fala-se com saudade que, na época do
Mussolini, os trens chegavam na hora. A verdade é que o mundo sempre fez acordo
com a hipocrisia e a canalhice é imensa. Se não tivessem tirado o pão da boca
do Pedro Collor, ele não teria falado. E o Roberto Jefferson? Quando percebeu
que a bomba ia explodir em cima dele, resolveu falar. E se converteu numa
figura histórica.
Você acredita que Jefferson passará
para a História?
Claro,
ele derrubou a República e acabou com o PT!
O que você achou do pronunciamento
que o presidente fez à Nação, na sexta-feira?
Resultado
da ignorância dele e dos "intelectuais" que o assessoram. Como é que
ele fala no "partido que eu fiz"? Isso não se diz assim, na primeira
pessoa. O uso do "nós"é um aprendizado cultural que Lula não teve. E
aquele grupo de ministros que assistia ao pronunciamento? Lamentável. Eu até
fiz uns versinhos. Chama-se "Poema em ão". É assim: Se ele sabe do
mensalão/é charlatão./Se ele não sabe/é um boçalão. Eu me senti ofendido com o
pronunciamento.
Por que ofendido?
Porque
é muita ignorância. Não adianta, livro é livro e essa gente não leu nada, não
escreveu nada. Até a bicha-louca do Hitler escreveu um livro na cadeia, que,
convenhamos, até fez certo sucesso. "Vão ter de me engolir", diz Lula
parodiando Zagallo, que não é lá o meu filósofo predileto. Daí avisei: ele
agora vai aprofundar mais e citar o Chacrinha. Prefiro ficar com a minha
filósofa, Dercy Gonçalves, que aos 98 anos anda dizendo o seguinte: "Hoje
puta é status". Fernanda Karina, a secretária, acusou e já foi se
preparando para sair nua na Playboy. Ao que parece, o material não foi
aprovado. Uma coisa que humilha a gente é ouvir "não quero posar nua,
quero ser reconhecida pelo meu trabalho". Eu não quero ser reconhecido
pelo meu talento, quero sair nu na Playboy!!
Certa vez Paulo Francis atribuiu a
seguinte frase a você: "Se o Lula for eleito, o Brasil vai virar uma
Romênia". Você de fato disse isso?
Não
me recordo. Disse alguma coisa parecida em relação ao João Amazonas, o velho
comunista. Escrevi o seguinte: "Revelado. João Amazonas tem uma conta na
Albânia". E vou adiante. "José Dirceu tem uma conta em Cuba. Marcos
Valério tem uma conta em Las Vegas." E o jantar que o Lula teve com o
Chávez, sem avisar o Itamaraty? É ou não é a prova de que é fronteiriço? Este
Chávez, que é um patife um pouco mais esperto, vem aqui para tirar uma castanha
qualquer da brasa. A esculhambação geral vai dar num ridículo atroz.
É o fim do sonho socialista?
Olha
aqui, a idéia do socialismo é maravilhosa. Como a idéia do cristianismo. Mas,
na minha vida toda, eu nunca encontrei um cristão e um comunista de verdade.
Sou um humanista ateu. No entanto, sou mais comunista e mais cristão que muita
gente. Eu me responsabilizo pelas empregadas que me atendem. Não vou
abandoná-las jamais. A idéia do socialismo é incrível, mas está fadada a não
dar certo. Porque o ser humano não é isso. Ele é capitalista na essência.
Quando desabou a União Soviética, fiquei surpreso com o tamanho do rombo
econômico, mas a máfia já estava lá. Já tinha milionário, já tinha carrão na
porta do restaurante. Tudo bem, sempre se pode colocar todas as contas na
internet, fazer pressão, protestar na rua, mas, quando o "partido da
pureza" chega ao poder imitando o modelo mexicano, daí não dá! Olha aqui,
não vejo como o mundo possa se salvar.
Hoje dois publicitários estão no
epicentro do escândalo - Marcos Valério e Duda Mendonça.
Não
é por acaso. O jornalismo é uma profissão cujo objetivo "filosófico"
é trazer à tona certas coisas que as pessoas não sabem. Tem um compromisso com
a verdade. Agora, qual é o objetivo "filosófico" da publicidade? A
mentira. É mentir sobre o sabonete, a maionese, a margarina, o político. Fazer
anúncio sobre seguro médico é uma ofensa. Fico envergonhado ao ver que os
bancos estão tomando dinheiro dos velhinhos e os atores da Globo anunciam isso.
Os velhinhos pegam o dinheiro e pagam juro antecipado! É uma indecência. E por
que o Estado tem de fazer publicidade? O que o Ministério da Saúde precisa é
divulgar o calendário das vacinas, coisas assim. Não tenho respeito pela
publicidade. Os caras ficam aí se gabando de que sabem fazer slogans e passam
anos para criar coisas como "Coca-cola. É isso aí". De quantos
slogans precisam? Faço dez agora.
Você poderia fazer algumas das suas
"definições apertadinhas"?
Vamos
lá. Deixa pegar meus óculos. Não sei fazer definição sem eles.
Cueca.
Banco
de dados. Afinal, todo o dinheiro que o sujeito levava era dado.
Mensalão.
Estupro
econômico-social que não ousa dizer seu nome.
Repilo.
Poderia
ser marca de repelente.
Campo Majoritário.
Maracanã.
Sujeito vertical.
Indivíduo
que se curva ao menor vento contrário.
Opportunity.
A
melhor tradução seria: Daniel Dantas.
Banco Rural.
Como
diz a publicidade, nem parece um banco.
Lobista.
Praga
para matar com "repilente".
Salário mínimo.
Salário
máximo pago a um pobre diabo.
Comissão de Ética.
Ética
que já vem com preço.
Um comentário:
Grande Millor!!!
Já se foi Nelson, Paulo Francis, agora o Millor! Estamos cada vez pior.
Quem temos agora?
Tem quem se contenta com Diogo Mainardi. Não é o meu caso.
Quem temos agora? A dúvida se impõe.
Ah, quase esqueço. Sou mais essa do Millor:
"O Brasil é um filme pornô com trilha de bossa nova."
abs Gustavo,
Raphael Coutinho
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