Hoje,
14 de março, é o dia nacional da poesia, instituído em memória e celebração do
nascimento de Castro Alves no ano de 1847, na Fazenda Cabaceiras, próximo a
Nossa Senhora de Conceição de Curralinho, localidade que atualmente leva seu
nome, aqui na Bahia.
Castro
Alves queria ser um grande poeta, sobretudo um poeta político, que contribuísse
para mudar o estado de opressão em que viviam os escravos, pois via a poesia
como um meio, não como um fim em si. Segundo Alberto da Costa e Silva, no
perfil que fez para a Companhia das Letras sobre o poeta maior do Brasil, “foi
disso que nos quis avisar, ao pôr como epígrafe de A Cachoeira de Paulo Afonso dois parágrafos de Heine”. O primeiro
diz tudo: “Não sei se mereço que algum dia se deponha uma coroa de louros sobre
o meu túmulo. A poesia, apesar de todo o meu amor por ela, não foi para mim
senão um meio, consagrado a uma finalidade santa”. No segundo confessando que
tudo o que desejou foi ser “um bravo soldado na guerra para a libertação da
humanidade”.
Em
que pesem tais considerações, devemos observar que mesmo tendo pronto o livro “Os
Escravos”, Castro Alves empenhou todos os esforços para publicar primeiramente “Espumas
Flutuantes”, obra que não deixa dúvidas sobre o domínio estético e a
versatilidade que possuía. Mas foi como o Poeta dos Escravos que Castro Alves
perpetuou-se na literatura.
Faleceu
em 6 de julho de 1871, aos 24 anos, tendo deixado em tão pouco tempo de vida
uma obra monumental, capaz de colocá-lo no panteão da poesia universal graças,
sobretudo, ao se olhar para o povo oprimido e versos como os de Bandido Negro, considerados como de
incitação ao crime, por louvar os grupos de africanos que, armas em punho,
atacavam as fazendas e deviam, sem dúvida alguma, enfurecer os escravocratas.
Bandido Negro
(excertos)
Castro
Alves
Trema
a terra de susto aterrada...
Minha
égua veloz, desgrenhada,
negra,
escura nas lapas voou.
Trema
o céu... ó ruína! ó desgraça!
Porque
o negro bandido é quem passa,
porque
o negro bandido bradou:
Cai
orvalho de sangue do escravo,
cai,
orvalho, na face do algoz.
Cresce,
cresce, seara vermelha,
cresce,
cresce, vingança feroz.
(...)
E
o senhor que na festa descanta
pare
o braço que a taça alevanta,
coroada
de flores azuis.
E
murmure, julgando-se em sonhos:
"Que
demônios são estes medonhos,
que
lá passam famintos e nus"?
(...)
Somos
nós, meu senhor, mas não tremas,
nós
quebramos as nossas algemas
para
pedir-te as esposas e mães.
Este
é o filho do ancião que mataste.
Este
- irmão da mulher que manchaste...
Oh!
não tremas, senhor, são teus cães.
(...)
São
teus cães, que tem frios e tem fome,
que
há dez séculos a sede consome...
Quero
um vasto banquete feroz...
Venha
o manto que os ombros nos cubra.
Para
vós fez-se a púrpura rubra.
Fez-se
o manto de sangue para nós.
(...)
Meus
leões africanos, alerta!
Vela
a noite... a campina é deserta.
Quando
a lua esconder seu clarão
seja
o bramo da vida arrancado
no
banquete da morte lançado
junto
ao corvo, seu lúgubre irmão.
(...)
Trema
o vale, o rochedo escarpado,
trema
o céu de trovoes carregado,
ao
passar da rajada de heróis,
que
nas éguas fatais desgrenhadas
vão
brandindo essas brancas espadas,
que
se amolam nas campas de avós.
Cai
orvalho de sangue do escravo,
cai,
orvalho, na face do algoz.
Cresce,
cresce, seara vermelha,
cresce,
cresce, vingança feroz.
2 comentários:
Eu não canso de ler esse poema.
é belíssimo mesmo!
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