sábado, 25 de julho de 2009

Três sonetos azuis

Há poucos dias um amigo me enviou um soneto azul. Logo me vieram o nome de outros poetas que também haviam escrito poemas com esse contorno. O mais conhecido, sem dúvida, é Carlos Pena Filho. Trago aqui outros dois, os baianos Sosígenes Costa e Plínio de Almeida. Espero que gostem.

Soneto do desmantelo azul
Carlos Pena Filho

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

Soneto azul
Plínio de Almeida

Sonho azul, vestido em azul celeste,
e que desce do céu de azul-turquesa,
peço ao mar azul que venha e me empreste
estro para eu cantar tua beleza.

Se de azul a montanha se reveste
sob a pompa do azul da natureza
que, fluidificada em azul, investe
os paços azulinos da tristeza,

penso na graça azul do teu sorriso
e através dele o céu azul transponho,
e entre flores azuis eu te diviso.

Vestes no céu um manto azul-safira,
e me beijas, amor, somente em sonho,
sonho feito de azul, de azul-mentira.

Pavão azul
Sosígenes Costa

No jardim do castelo desse bruxo
d’asas d’ouro e olhos verdes de dragão,
tu és à beira de um lilás repuxo
um grande lírio de ouro e de açafrão.

Transformado em pavão por esse bruxo,
vivo te amando em tardes de verão,
dentre as rosas e os pássaros de luxo
do jardim desse bruxo castelão.

Tenho medo que um dia o jardineiro...
Mas nunca estou bem certo, do canteiro
há de colher-te, oh minha flor taful!

Porque ele sabe que em manhã serena
não suportando a ausência da açucena,
há de morrer este pavão azul.

3 comentários:

José Carlos Brandão disse...

Gosto do soneto e gosto do azul. Uma sopa com os dois, que delícia! E com três mestres, um melhor que o outro. Viva!

Poeta Silvério Duque disse...

Como o Mar e o Céu a espelharem-se num azul infinito, estes três sonetos são obras-primas a se somarem... divinais...

Rafael Noris disse...

Antes de ler os sonetos pensei que seria algo mais triste, pela associação azul-blue-tristeza... mas os sonetos deles passam também outros elementos do azul: no primeiro sente-se um pouco do triste, no segundo é associado mais a natureza e tem um aspecto calmo, contemplativo. O terceiro parece dissociado do lugar comum que a cor azul passa, tem bastante humor. Adorei todos! Abraço e até mais!