trecho da peça de Calderón de la Barca, fala de
Segismundo. uma preciosidade.
É certo; então
reprimamos
esta fera condição,
esta fúria, esta ambição,
pois pode ser que
sonhemos;
e o faremos, pois
estamos
em mundo tão singular
que o viver só é sonhar
e a vida ao fim nos
imponha
que o homem que vive,
sonha
o que é, até despertar.
Sonha o rei que é rei,
e segue
com esse engano
mandando,
resolvendo e governando.
E os aplausos que
recebe,
vazios, no vento
escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um
corte.
E há quem queira
reinar,
vendo que há de
despertar
no negro sonho da
morte?
Sonha o rico sua
riqueza
que trabalhos lhe
oferece;
sonha o pobre que
padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo
preza,
sonha o que luta e
pretende,
sonha o que agrava e
ofende
e no mundo, em
conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto, ninguém
entende.
Eu sonho que estou aqui
de correntes carregado
e sonhei que noutro
estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um
frenesí.
Que é a vida? Uma
ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é
tristonho,
porque toda a vida é
sonho
e os sonhos, sonho são.
Tradução de Renata
Pallotini
Nenhum comentário:
Postar um comentário