domingo, 29 de agosto de 2010

Bruno Tolentino está de volta

Não perece quem lega à humanidade uma obra tão grandiosa, tão repleta de vida, por isso Bruno Tolentino está de volta com a reedição de uma de suas obras mais conhecidas, AS HORAS DE KATHARINA, grande responsável pela consolidação de seu nome como um dos principais autores nacionais contemporâneos. A obra sai pela Record sob a organização de Guilherme Malzoni, com comentários de Juliana Perez e notas do meu amigo Jessé Primo. O melhor é que a reedição da obra vem acompanhada pela publicação da peça inédita A ANDORINHA, OU; A CILADA DE DEUS.

Indo um pouco além
Para o crítico Manuel da Costa Pinto, “Bruno Tolentino conjugava em sua poesia elementos modernos e antimodernos. Era antimoderno em relação ao modernismo brasileiro, pois recusava suas soluções formais de coloquialidade e concisão”. Mas por outro lado a voz de Bruno se aproximava de certo modernismo europeu, que associava formas clássicas à voz das ruas.
Polemista, em 1996, depois de morar 30 anos fora do Brasil, manifestou em entrevista à revista Veja sua preocupação por ver o filho mais novo estudando em escolas que ensinavam as obras de letristas da MPB - como Caetano Veloso - ao lado de Machado de Assis, Camões e Fernando Pessoa. Com muita coragem ele afirmou que era “preciso botar os pingos nos is. Cada macaco no seu galho, e o galho de Caetano é o showbiz. Por mais poético que seja, é entretenimento. E entretenimento não é cultura”. Ele também disparou contra Chico Buarque e os irmãos concretistas Haroldo e Augusto de Campos, ainda contra críticos literários e professores da USP.

Neste link a polêmica entrevista:
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/bruno-tolentino-3-na-veja-ha-11-anos-so-entro-numa-universidade-disfarcado-cachorro/

Abaixo, o segundo poema do livro:

Noturno

I.

Porque o amor não entende
que tudo quer passar,
nunca, nunca consente,
a nada o seu lugar.

Planta presa, de alpendre,
sacudindo no ar
braços impenitentes,
tenazes, em lugar

de aceitar que não prende
nada, o amor quer dar
apaixonadamente
laços à luz solar

e é noite de repente.


II.

Se ainda te iluminar
com um olhar novamente,
sei que não vais estar
tão perto; a alma entende,

o corpo quer gritar!
Porque o olhar apreende
mais do que alcança dar,
à distância, na mente,

de que vale um olhar
com a noite pela frente?
Essa noite que tende
a unir e separar

inapelavelmente...

Um comentário:

Marcantonio disse...

A despeito das qualidades do poeta, o polemista Bruno Tolentino parecia mover-se por um certo oportunismo ou ressentimento. Acompanhei algumas de suas polêmicas nas revitas BRAVO e REPÚBLICA. Claro que o diagnóstico dele a respeito da confusão de valores nos meios culturais brasileiros era correto. Mas, suas idéias elitistas sobre formação e erudição pareciam intolerantes, quando não ridículas, sobretudo se aplicadas a área da literatura, onde, muito mais importante do que chancelas e e saberes formais, vale a sensibilidade, capacidade de pensar e inventar. Pelos critérios do professor de Oxford, muita gente boa ficaria de fora do Panteão literário ou artístico, a começar por um Machado, um Saramago, um Van Gogh, etc. É preciso relativizar as coisas,afinal, comparados em termos absolutos, por critérios quantitativos e formais, um bom estudante de letras de hoje seria considerado erudito se comparado a um Horácio, ou mesmo a um Cervantes. Mas, em termos de gênio criativo...

Agruras das relações entre política e cultura.