Analfabetismo é um problema histórico difícil de resolver agora
A menina de 4 anos chegou da creche com um bilhete em punho: "Manhêê, lê!" Maria Helena, de 36 anos, três filhos e uma panela na mão, olhou o papel e logo voltou os olhos para a pia. Mas a filha não deu sossego. A mulher, então, deixou a panela, pegou a mão da garota e o bilhete e foi em busca de alguém que fizesse o favor de "entender as palavras escritas". A pequena fincou o pé e desabou num choro: "Não! É a mãe que tem que ler, não vale a vizinha, a professora mandou!" Cida tem 40 anos, é irmã de Maria Helena e trabalha como empregada doméstica. Ao som de seu radinho de pilha, Cida cumpre seus afazeres. Mas basta o carteiro aparecer para tirar o seu sossego. Cida sabe assinar o nome, "todinho, em letra corrida: Maria Aparecida de Oliveira da Silva", mas basta segurar a caneta para se esquecer das letras. Espalhados pelas cidades, metidos em uniformes de garis, buracos de construção, casas de família ou salões de cabeleireiros, há no Brasil 14 milhões de analfabetos. Eles ganham em média R$ 430, ante R$ 962 para aqueles que cursam o ensino médio. São analfabetos absolutos, que frequentaram muito pouco uma escola ou mesmo nunca pisaram numa delas. Essa população aprendeu a levar a vida no jeitinho, reconhece o ônibus pela cor ou guarda receitas e informações importantes na memória. Analfabetismo é um problema histórico difícil de resolver agora, diz ao Valor o economista Naercio Aquino Menezes Filho, do Insper-Instituto de Ensino e Pesquisa, de São Paulo. Segundo ele, ao longo do século XX, o Brasil não se esforçou suficientemente para pôr todas as crianças na escola.
Fonte:
Valor Econômico - 02/07/2010
Fonte:
Valor Econômico - 02/07/2010
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