Escrevo de cabeça baixa
por que levantá-la depois?
Não o faça para ser visto
pelos que passarem na estrada.
Viver na mesma posição
mas deixando a alma sair
pelos olhos e pela boca,
como água a jorrar de uma estátua.
Este é o tempo em que Deus regressa
pelos quatro cantos da casa.
Vem desenterrar o poema
do meu corpo e gritar comigo.
Recebe-o diante do espanto
dos amigos que não o vêem,
tenho gestos incompreensíveis
e digo coisas já remotas:
Senhor, protege meu poema
e obscurece com tua sombra
os versos mortos, as palavras
que sobram, o tempo perdido.
Relação externa:
Poema único, dividido em 30 partes, foi escrito no verão de 1967 e publicado originalmente em 1969, em separata da revista Estudos Universitários, da Universidade Federal de Pernambuco. Está disponível, na íntegra, neste endereço: http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/albertora2004.htm
2 comentários:
senti a água me jorrando pelos olhos
muito obrigado, Gustavo
vou ler todo o poema e levar o site pro meu spirituals
Tive a oportunidade de ler no O ESCRITOR JAPIM, o seu texto sobre Alberto da Cunha Melo. Tenho que agradecer a você por me apresentar esse poeta excepcional, para o qual, na minha ignorância infinita, jamais atentara. Fiquei maravilhado com o poema CASA VAZIA, e vou correndo ler esse Oração Pelo Poema. O seu blog é um banquete poético. Só ganho ao acompanhá-lo. Feliz também de encontrar aqui uma entrevista com W. J. Solha.
Um abraço.
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