quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO

Carlos Drummond de Andrade

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Cangaço
Para João Bá


Para quem pensa
Que o cangaço se acabou
Vive parado na história
O cangaço continua
Silencioso na memória
Sem volantes, cangaceiros
Ou Lampiões
Matando muito mais gente
Pelas cidades e pelos sertões.

Quem imaginou
Que no tempo do Capitão
Houve mais mortandade
Enganados todos estão
O cangaço anda solto
Com a anuência do grande Cão
Agora dando gravatas
Em insuspeitos cidadãos
Matando muito mais pais de família
Pelas cidades e pelo sertão.

O nordestino morrendo de fome
E o preto pobre metralhado na invasão
Lampião foi um santo
Besta é aquele que difama o capitão
Diga-me se o cangaço
Não tá aí agora, não
Sem clavinote, fuzil ou mosquetão,
Silencioso na capital Federal
Em pleno coração de minha Nação.


MIGUEL CARNEIRO

BAR DO BARDO disse...

Sempre um texto bom. Ai, esses congressos!...

Gerana Damulakis disse...

Sabia usar a ironia com maestria.