sábado, 1 de agosto de 2009

O poeta Bernardo Linhares

Postagem especial em comemoração à passagem do aniversário do poeta, neste 30 de Julho.

Bernardo Linhares, além de muito bom poeta é um amigo querido. Bom poeta, bom gourmet, testado e aprovado com louvor nas tarde/noites de oficina literária na casa da mestra Maria da Conceição Paranhos. Soteropolitano, da Barra, ao contrário da imensa quantidade de poetas esquálidos da nossa geração, se mostra criterioso e crítico, ainda um pouco distante da (a)ventura da publicação, apesar de já ter sido inserido em algumas coletâneas baianas. Entretanto, é provável que uma hora dessas o poeta apareça com um compêndio para nos apresentar, pois sua produção já é bastante volumosa e de qualidade.
Desejamos ao Bernardo Linhares muita alegria, prosperidade e paz. Nosso presente para ele é esse breve panorama de sua poesia.

CAROLINA

São rosas na bruma
buquê de gaivotas
por cima das águas
bordadas de espumas.

Com linha da costa
de seda tão pura
costuro tua moda
na vela do barco.

Ternura mais funda
os fios da corrente
revelam teus laços...

Cortando o silêncio,
um amor imenso
navega no vento.


O Sol

Ao Poeta Ruy Espinheira Filho

Depois da noite em chamas,
cantando nas espumas,
o mar ainda é rubro,
ouriçado de escamas.

Feito uma concha, rosa
secreta sob as ondas,
a lua fecha os olhos
e oculta a própria sombra.

No céu surge outra chama,
na chama vários tons,
nos tons todas as gamas.

O sol, concha amarela,
transforma a aurora escura
num céu de madrepérola.


Madrepérola

O céu também é madrepérola
no seio cálido da aurora;
as minhas mãos são duas conchas,
onde deslizam tuas pérolas;

são duas pérolas douradas,
brilhando assim, tranqüilas, claras;

em meio às luzes desse bálsamo
e o céu da boca à flor da pele,
levo nas mãos teu coração;

ao florir das primeiras horas,
teu seio é cálido na aurora.


Sertanejo

Para Miguel Carneiro

O anjo partiu enrolado na rede.
Cruzes entoam rosário de preces.
Reses perdidas procuram pastores.
Alma penada suplica por hóstia,

e o diabo é o sol queimando nas costas...
Carneirinho, Carneirinho meu santo,
lá, onde o inferno tem fome e fama
com a graça de Maria Imaculada,

teu pé no pó anda léguas de encanto,
terna imagem do azul, manto celeste.
Poema é curto, no cabo da enxada,

estalando dedos, fio de navalha.
Sementes são calos, não cicatrizes.
Meu santo, tuas mãos pulsam raízes.

Rapina

Para Zeca de Magalhães

Leque ríspido, incoercível pássaro,
asas abertas, navegando cactos,
seguindo a seca que fulmina os círios,
a rapina aterrissa em crucifixo.

Meia noite, pau d’arco, corre a lágrima
da carneira tábida, a nave mármore
com ossos no ninho, coroa e espinhos,
insere duas cruzes no epitáfio,

depois aponta o bico para o céu.
Mal aventurada, cruel, rapina,
fera faminta, infeliz e funérea.

Sua fúria desafia e fascina,
ela, que vigia no mundo a miséria,
a morte, amigo,é que ilumina a Terra.

Recado pro BL:
Jacaré, minha ida à Salvador ficou para a próxima semana. Vê se deixa umas geladas aí pra gente. Boa comemoração!

3 comentários:

Gerana Damulakis disse...

Parabéns, Bernardo, pela data de aniversário e pela poesia.

Rafael Noris disse...

Parabéns ao poeta Bernardo, pelos poemas e pelos anos!

Anônimo disse...

O POETA DO PORTO

Para Bernardo Linhares


Debruçado em seu casarão
O poeta Bernardinho cochila
Alheio à tanta esculhambação...
O verso vem no gatilho
e o sorriso franco de irmão
Dizem:"que sou poeta do reino
da ficção"...
mas, meus versos vem tingidos
de flor, alma e dispersão
Bernardinho Linhares
Poeta pleno, encrustado em meu
coração!

Miguel Carneiro