terça-feira, 10 de março de 2009

O Cordel na Bahia I

Rodolfo Coelho Cavalcanti
Por Maria do Rosário Pinto
Rodolfo não era baiano, mas residindo na Bahia foi que escreveu e publicou a maior parte da sua obra, hoje comparada em importância com a de grandes poetas como Leandro Gomes de Barros, precursor do cordel. (Nota e seleção de Gustavo Felicíssimo)

Rodolfo Coelho Cavalcanti nasceu em Rio Largo (AL) em 1919. Entretanto, consta do registro de nascimento a data de 1917. Filho de Arthur de Holanda Cavalcante e Maria Coelho Cavalcante, foi criado pelos avós maternos até os 8 anos, quando retorna à casa dos pais. As constantes mudanças entre Maceió e Rio Largo o obrigaram a trabalhar para ajudar no sustento familiar.
Adolescente, percorre parte do Norte e Nordeste, atuando como camelô, palhaço de circo, dentre outras atividades. Desde essa fase, já se faz notar como bom versejador, participando de pastoris, cheganças e reisados.

Defensor dos poetas

Em Parnaíba (PI), adquire folhetos do poeta e editor João Martins de Ataíde para revender, começando assim sua vida de folheteiro. Instala-se em Salvador (BA), em 1945, firmando-se como defensor e líder da classe de poetas. Publica folheto dedicado ao governador Otávio Mangabeira, que libera poetas, cantadores e folheteiros da proibição de comercializarem seus produtos em praças públicas. Publicou principalmente em Salvador e Jequié; formou uma vasta rede de agentes distribuidores em todo o Nordeste, editou também na Prelúdio (SP).
Realizou na Bahia, em 1955, o I Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros. Como jornalista, fundou alguns periódicos, como A Voz do Trovador, O Trovador e Brasil Poético.
Percorreu vários temas da literatura de cordel, os mais recorrentes foram os abecês, biografias, cantorias e fatos do cotidiano. Foi também tema de vários poetas e pesquisadores da literatura de cordel.

Folhetos artesanais

Seus folhetos, em sua maioria, de oito páginas, com capas em xilogravuras ou clichês, eram confeccionados artesanalmente, com a ajuda dos filhos. Somente a impressão era feita em tipografias.
Publica o primeiro folheto, Os clamores dos incêndios em Teresina. Publica o ABC de Otávio Mangabeira, em 1949; ABC da praça Cayrú, [19--]; ABC de Getúlio Vargas, [19--]. Seu primeiro grande sucesso de vendas foi A volta de Getúlio, de 1950. Na Prelúdio (SP), os folhetos ABC dos namorados, do Amor, do Beijo e da Dança e A Chegada de Lampião no Céu, ambos em 1959.
Morreu em 1986. Pouco antes, enviou trova para o II Concurso de Trovas de Belém do Pará: “Quando este mundo eu deixar / A ninguém direi adeus / Dos poetas quero levar / Suas trovas para Deus.

A Chegada de Lampeão no Céu
(estrofes I a VI)

Lampeão foi no inferno
Ao depois no céu chegou
São Pedro estava na porta
Lampeão então falou:
- Meu velho não tenha medo
Me diga quem é São Pedro.

E logo o rifle puxou
São Pedro desconfiado
Perguntou ao valentão
Quem é você meu amigo
Que anda com este rojão?
Virgulino respondeu:
- Se não sabe quem sou eu
Vou dizer: Sou Lampeão.

São Pedro se estremeceu
Quase que perdeu o tino
Sabendo que Lampeão
Era um terrível assassino
Respondeu balbuciando
O senhor...está...falando
Com...São Pedro...Virgulino!

Lampeão disse está bem
Procure que quero ver
Se acaso não tem aí
O meu nome pode crer
Quero saber o motivo
Pois não sou filho adotivo
Pra que fizeram-me nascer?

A Editora Hedra publicou uma antologia da obra do autor. Veja no link:
http://hedra.com.br/home/index.php?PHPSESSION_HEDRA=sess&id=7&livro_id=48&area%5B%5D=catalogo&area%5B%5D=detalhes

Um comentário:

Thobias disse...

Exelente, Gustavo!