Reproduzo abaixo,
um texto de Jessé de Almeida Primo, postado hoje no facebook, a respeito do
falecimento daquele que é um dos maiores poetas injustiçados do país.
“Soube
hoje do falecimento de um dos maiores poetas do país, Otávio Mora, autor de
duas obras-primas da nossa literatura, Ausência Viva e Terra Imóvel, ambas dos
anos 50. Pedro Sette-Câmara me enviara um e-mail informando do fato e disse que
o soube pelo jornal O Globo, no qual informava ter lido apenas "uma nota
de falecimento(...), que não dizia nem quando, nem como, só manifestava
saudades". Quando um poeta desse porte morre e os cadernos culturais não
se ocupam do assunto, é porque de fato o país está embrutecendo”.
Confira
AQUI o poema abaixo, um dos mais belos de
Octávio Mora, com o comentário de Pedro Sette-Câmara. AQUI pode-se ler uma postagem antiga que fiz com poemas do autor.
IFIGÊNIA
Octavio Mora
Como estátua de vento,
pedra gasta,
sopra Ifigênia sempre
na memória,
e estamos nela sem
escapatória
como o tempo nas
pedras: só se afasta
(devido à semelhança
com o vento
de seu todo), para
estar em nós, aérea,
desprovida de
contornos, em matéria
capaz de dar volume ao
pensamento
que surge do que some:
quando volta
volta cheia de pássaros
e tudo
se lhe gruda ao olhar:
reminiscência
de seus passos, o
pássaro se solta
e em nós gravita a
terra: conteúdo
e volume final de sua
ausência.
2 comentários:
Poucos poetas compreenderam tão bem a verdadeira essência da poesia e a levaram tão a sério como Octavio Mora... Northrop Frye é que estava certo, em nosso tempo um poeta pode ficar conhecido da noite pro dia pela forma como assassinou a esposa, mas não por terescrito um grande poema e nesses dias pós morte de Hebe, nem se Shakespeare ressuscitasse em terras tupiniquins isso viraria notícia.
Vivemos o tempo da espetacularização, poeta!
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