Em
Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna, publiquei, de Piligra, entre
outros, o poema “Concepção”. Trata-se de um soneto, cujo verso escolhido foi o
Alexandrino Trímetro, onde o poeta discorre sobre seu modo de composição, semelhante
ao de um “arquiteto que planeja um edifício”. É, por assim dizer, uma forma
clássica de poesia, dentro da qual o autor melhor se ajusta, “sem perguntar se
isto é fácil ou difícil”. Essa predisposição nasce de uma necessidade pessoal,
pois a forma escolhida se encontra internalizada, e assim, amalgamada ao fazer
do poeta, embora ele também transite – com menor frequência – pelo verso livre,
decassílabos e redondilhas.
Foi
com esse poema do Piligra que procurei dialogar em “Inóspita Claridade”,
compondo o meu como se fosse uma continuidade do original, não o seu
espelho, em que ao invés de planificar um tratado sobre um modo particular de
escrever, procuro antes os motivos que me levam a fazê-lo, uma espécie de
profissão de fé, sintetizada nas últimas palavras dos três versos finais. Quais
sejam: esperança – liberdade – verdade. Eis tudo que acredito ser a razão do
fazer poesia.
Concepção
Piligra
eu
já concebo o verso assim metrificado
como
arquiteto que planeja um edifício
na
exatidão do prumo reto e equilibrado
sem
perguntar se isto é fácil ou difícil!
eu
já concebo a rima assim – intercalada,
numa
urdidura trabalhosa e singular –
puxando
o fio de cada sílaba marcada
pelo
tecido de uma métrica “sem par”!
eu
já concebo o meu soneto alexandrino
(como
a matriz de uma equação vetorial)
fazendo
cálculo semântico e verbal,
com
meu compasso atrapalhado de menino!
eu
já concebo o meu poema ornamental
como
operário que dá forma ao que é divino!
Inóspita Claridade
Gustavo Felicíssimo
Eu
faço versos por viver na poesia
todo
universo do real e do abstrato,
feito
um menino que contempla a fantasia
enquanto
bárbaros renegam seu retrato.
Eu
faço versos porque vejo a claridade
do
novo tempo que está prestes a nascer,
quando
irmanados e distante a falsidade
a
humanidade poderá se conhecer.
Verá
sua face no sorriso da criança,
em
cada gesto de modéstia ou de virtude:
no
seu semblante verá toda plenitude.
Verá
que a luz se faz presente e a esperança,
palavra
viva, vem somar-se à liberdade,
reconduzida
ao seu lugar, junto à verdade.
2 comentários:
Admiro quem concebe na poesia a pureza. Para mim, pureza é apenas um tema.
Piligra e Gustavo, segundo sei, conseguem fazer bons trabalhos em duo.
Eis mais um.
Parabéns!
Com uma lijeira quedinha a mais para o primeiro soneto, mas sem deixar de reconhecer a qualidade na simplicidade do segundo, me seduz a poesia de pés no chão como a sua. Tô cansado do prolixo, das viagens sem volta, das criaturas esquisitas que lemos por aí.
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