Escritor
consagrado, tendo publicado O país do carnaval, Cacau, Suor, Jubiabá, Mar Morto
e Capitães da Areia, em 1938, residindo em Sergipe, Jorge Amado fez imprimir a
edição de um livro de poemas em prosa intitulado A Estrada do Mar, sem veiculação
comercial e distribuição restrita apenas para os amigos. Livro raríssimo, ao
qual sempre estive em busca, a essa altura pertencente à categoria das
preciosidades literárias brasileiras. Por isso já me contentaria ao menos em
poder conhecer alguns dos poemas ali publicados.
Não
obstante, tenho visto ao longo do tempo o esforço de algumas pessoas no sentido
de aproximar a prosa amadiana da poesia lírica, dispondo em versos algumas
passagens dos seus romances, o que me parece um tanto forçoso, desproposital,
afinal, entre prosa poética e poesia em prosa há uma distância considerável,
ainda que o autor em questão em muitos momentos se esforce para diminuir as
barreiras entre a linguagem denotativa, característica da prosa, e a
conotativa, característica da poesia. Isso não significa que eu não acredite na
possibilidade de novas leituras da obra do mais canônico e popular escritor
baiano.
Quem
não resistiu à tentação de dispor a prosa de Amado em versos foi a fotógrafa
Maureen Bisiliat, na edição de Bahia Amada Amado, obra de grandes proporções,
com ótima encadernação, título em relevo e fotos impressionantes. Ela escolheu
textos indiscutivelmente poéticos, mas de modo algum poderiam ser dispostos em
verso, como se dessem a entender que são, de fato, poemas em si. Bom exemplo é o
trecho abaixo de ABC de Castro Alves:
No
tempo do poeta Castro Alves
Os
negros eram escravos comprados em leilões,
Mercadoria
que se vendia, trocava e explorava.
E
em troca de tudo que eles deram ao branco,
Sua
força, seu suor, suas mulheres e filhas,
A
maciez da sua fala que adoçou a nossa fala,
Sua
liberdade,
O
branco lhe quis dar apenas,
Além
do chicote, os deuses que possuía.
Não deu certo. A linguagem é toda
denotativa, descritiva e linear como o autor concebeu, ameaçando beijar a
poesia apenas quando diz que “A maciez da sua fala que adoçou a nossa fala”.
Muito pouco para um poema.
O poeta Telmo Padilha, em 1974,
organizou e deu à publicação uma obra intitulada Moderna Poesia do Cacau. A
obra possui dois pontos graves: o primeiro está no título, pois como aponta
Hélio Pólvora no prefácio, “nem todos os antologiados são poetas do cacau”, e
prossegue dizendo que melhor seria chamá-la genericamente de “Poetas da região
cacaueira da Bahia”. O segundo está no fato de ser muito abrangente e
consequentemente pouco seletivo. Há ainda uma terceira questão: dispor em forma
de versos um texto em prosa de Jorge Amado. Eis abaixo apenas dois trechos de
As três Marias, retirados de Terras do sem fim, que na antologia virou Era uma
vez três irmãs:
Era
uma vez três irmãs:
Maria,
Lúcia, Violeta,
unidas
nas correrias,
unidas
nas gargalhadas.
Lúcia,
a das negras tranças;
Violeta,
a dos olhos mortos;
Maria,
a mais moça das três.
Era
uma vez três irmãs
unidas
no seu destino.
Cortaram
as tranças de Lúcia,
cresceram
seus seios redondos,
suas
coxas como colunas
morenas
cor de canela.
Veio
o patrão e a levou.
Leito
de cedro e de penas,
travesseiros
, cobertores.
Era
uma vez três irmãs.
E por aí vai, nessa toada que
circunda a redondilha maior, mas sem alcançar a graça da poesia e sua linguagem
circular, metafórica. O texto até segue uma modulação mais ou menos atenta à
sonoridade, embora esteja por demais ligado à sintaxe. Também não deu certo.
Melhor,
então, deixar o velho Jorge Amado no seu lugar? Acho que não... Neste momento
em que se cumprem dez anos da sua morte e 99 do seu nascimento, um interesse
incessante sobre suas criações, já consagradas em reflexões de grandes
intelectuais, se multiplica pelo País e no Exterior. Por isso é que se algum
exemplar do referido A Estrada do Mar viesse a lume, certamente o interesse por
ele seria colossal. Ainda que fosse apenas curiosidade. Perfeito mesmo seria se
alguém que nos lê agora tivesse um exemplar e nos brindasse com uma cópia daquela
jóia. Algum leitor que nos socorresse...
Um comentário:
Olá, também estou buscando esse livro "A Estrada do Mar", se souber como encontrá-lo, ou tiver notícias sobre, por favor, compartilhe comigo!!! Ficaria muitíssimo grata!
Ellen Oliveira.
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