Duplo
sentido é uma figura de linguagem na qual uma frase ou expressão pode ser
entendida de duas maneiras distintas, com a intenção de provocar humor ou
ironia. Tal recurso há muito tempo vem sendo utilizado na música brasileira, em
alguns momentos com grande maestria, como fez Chico Buarque durante a ditadura,
desafiando a (des) inteligência da censura. Um bom exemplo é Apesar de você,
uma canção de protesto com mensagens subliminares contra o presidente Médici.
É
bem verdade que Chico enviou a letra ao órgão crendo que ela seria vetada, mas
como foi liberada, lançou-se um compacto com Apesar de você de um lado e
Desalento de outro. Em uma semana cem mil cópias foram vendidas e a música já
era adotada como hino de resistência aos militares quando um jornal publicou
uma nota dizendo que o “você”, na verdade, era o general Médici. A música foi
proibida de ser executada e todos os compactos recolhidos e queimados.
Nos
dias de hoje, talvez pela falta de um inimigo público declarado, apesar de
tantos estarem por aí vestidos em pele de carneirinhos, esse tipo de letra está
descambando (se já não descambou) para a pornografia e total exploração da
alienação do povo.
No
momento, infelizmente, a música baiana está impregnada tanto por imbecis quanto
por uma mídia indulgente, comparsas no processo de insanidade e imbecilização
do povo, irmanados que estão por laços indissociáveis.
Escrevo
sobre esse tema depois de ter assistido a um VÍDEO onde a cantora Margareth
Menezes critica veementemente esse tipo de comportamento, tanto dos músicos
quanto dos ouvintes, mas também porque achei que nada de pior poderia agredir nossos
ouvidos depois que a banda Leva Nóis gravou Liga da Justiça, uma música
paupérrima, que junta super-heróis de quadrinhos a coreografias com rebolados e
insinuações sexuais entre o Super-Homem e a Mulher Maravilha. O refrão diz: "Foge,
foge, Mulher Maravilha. Foge, foge com o Superman". Nela a palavra
"foge" é repetida mais de 80 vezes em quatro minutos, mas o cantor
André Ramon, crente que somos mesmo um bando de imbecis, nega que haja duplo
sentido (fode).
Mas
eu estava errado, pois uma banda de nome tão pretensioso quanto inocente, a tal Oz
Polêmicos (sic) conseguiu uma façanha ainda maior, ou pior (não sei) que a tal
da Leva Nóis, gravando uma música chamada Pepino, fruto da pobreza humana que,
abraçada pela mídia, logo caiu no gosto popular e se tornou o hit do momento, cuja
letra diz: Mãezinha eu estou com um pepino/ Meu pepino é muito grande/
Você tem que resolver esse meu pepino. E o refrão, repetido ad infinitum, é o seguinte: Cai, cai,
cai, cai, cai no pepino...
É
como disse o Gerônimo certa vez: não
demora muito e as meninas vão estar com o clitóris na testa e a boca na pica
dos caras em plena avenida e todo mundo vai achar normal. Indo um pouco
além, acho até possível que a TV (incluindo aquela do Bispo) transmita o fato
ao vivo como se fosse um beijo em plena avenida. Ê, midiazinha infeliz!
3 comentários:
É verdade. Aliás, acho que, no caso, o sentido nem é mais duplo. Mas tratemos de colocar o povo nessa roda aí também. Mídia quer dim-dim, e se há demanda (e como há!)... Vide a polêmica Chico César versus bandas de "forró de plástico" no São João de Campina Grande.
É o insolúvel círculo vicioso de uma falta de educação que gera uma demanda, e da oferta a essa demanda que acaba reforçando a falta de educação. A mídia pode veicular um programa sobre nutrição e alimentação saudável, e no intervalo tascar o comercial de uma rede de fast food. Imaginar solução pra isso é tão difícil quanto assistir o Congresso aprovar uma reforma política que vá contra os próprios interesses. Rs. Mas, dizem que água mole em pedra dura...
Abraço.
Cara, tudo isso é uma desgraça! Evidencia da miséria cultural de nosso país. Os alunos (adolescentes) vivem com essas merdas na boca! Lixo!
Há vários tipos de sons. Apenas alguns são música.Pensem num serrote ou num martelo. Com a escrita, não é muito diferente. Também se pode entrar na zona da metalurgia. Também já ouvi bons músicos entrarem na insuportável combinação pior, de entre todas as possíveis: martelo no som e com metralhada textual. Curiosamente, um dia vi os mesmos músicos tocarem música excelente, melhor do que grandes bandas. Me parece que é a "mão invisível do mercado" que leva ATÉ excelentes artistas a executarem tamanha poluição mental.
Pedro Montalvão
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