O
Maçambicano Mia Couto tornou-se nos últimos anos um dos ficcionistas mais
conhecidos da literatura de língua portuguesa. O que pouca gente sabe –
sobretudo no Brasil – é que sua primeira publicação, em 1986, foi “Raíz de
Orvalho”, um livro de poesia. De lá para cá publicou outros 21 livros, todos em
prosa e em vários gêneros, entre eles romance, conto, crônica, ensaio. Em 2007
voltou à poesia com “Idades, Cidades, Divindades”.
Nada
disso eu saberia se o meu amigo Pedro Montalvão, de volta de Portugal, não me
trouxesse um ótimo presente, o livro “Tradutor de Chuvas”, o mais recente desse fabuloso Mia
Couto, a quem estive lendo nas últimas duas manhãs, peito nu e pé no chão, em
uma praia tranquila aqui de Ilhéus.
Percebe-se que o livro tem muito de
autobiográfico e uma linguagem cotidiana, no mesmo nível da fala comum, o que
não limita seu discurso que se encontra eivado de metáforas.
Pretendo voltar a postar algumas das minhas impressões sobre a poesia de Mia Couto, mas por enquanto deixo para
os leitores aquilo que em “Tradutor de Chuvas” até o momento mais me encantou.
SEIOS
E ANSEIOS
As
vezes que morri
boca
derramada entre os teus seios,
todas
essas vezes
não
me deram luto
porque,
de mim, eu em ti nascia.
Todos
esses abismos,
meu
amor,
não
me deram regresso.
Depois
de ti,
não
há caminhos.
Porque
eu nasci
antes
de haver vida,
depois de tu
chegares.
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