segunda-feira, 2 de maio de 2011

A Imbecilidade sem Limites


Duplo sentido é uma figura de linguagem na qual uma frase ou expressão pode ser entendida de duas maneiras distintas, com a intenção de provocar humor ou ironia. Tal recurso há muito tempo vem sendo utilizado na música brasileira, em alguns momentos com grande maestria, como fez Chico Buarque durante a ditadura, desafiando a (des) inteligência da censura. Um bom exemplo é Apesar de você, uma canção de protesto com mensagens subliminares contra o presidente Médici.
É bem verdade que Chico enviou a letra ao órgão crendo que ela seria vetada, mas como foi liberada, lançou-se um compacto com Apesar de você de um lado e Desalento de outro. Em uma semana cem mil cópias foram vendidas e a música já era adotada como hino de resistência aos militares quando um jornal publicou uma nota dizendo que o “você”, na verdade, era o general Médici. A música foi proibida de ser executada e todos os compactos recolhidos e queimados.
Nos dias de hoje, talvez pela falta de um inimigo público declarado, apesar de tantos estarem por aí vestidos em pele de carneirinhos, esse tipo de letra está descambando (se já não descambou) para a pornografia e total exploração da alienação do povo.
No momento, infelizmente, a música baiana está impregnada tanto por imbecis quanto por uma mídia indulgente, comparsas no processo de insanidade e imbecilização do povo, irmanados que estão por laços indissociáveis.
Escrevo sobre esse tema depois de ter assistido a um VÍDEO onde a cantora Margareth Menezes critica veementemente esse tipo de comportamento, tanto dos músicos quanto dos ouvintes, mas também porque achei que nada de pior poderia agredir nossos ouvidos depois que a banda Leva Nóis gravou Liga da Justiça, uma música paupérrima, que junta super-heróis de quadrinhos a coreografias com rebolados e insinuações sexuais entre o Super-Homem e a Mulher Maravilha. O refrão diz: "Foge, foge, Mulher Maravilha. Foge, foge com o Superman". Nela a palavra "foge" é repetida mais de 80 vezes em quatro minutos, mas o cantor André Ramon, crente que somos mesmo um bando de imbecis, nega que haja duplo sentido (fode).
Mas eu estava errado, pois uma banda de nome tão pretensioso quanto inocente, a tal Oz Polêmicos (sic) conseguiu uma façanha ainda maior, ou pior (não sei) que a tal da Leva Nóis, gravando uma música chamada Pepino, fruto da pobreza humana que, abraçada pela mídia, logo caiu no gosto popular e se tornou o hit do momento, cuja letra diz: Mãezinha eu estou com um pepino/ Meu pepino é muito grande/ Você tem que resolver esse meu pepino. E o refrão, repetido ad infinitum, é o seguinte: Cai, cai, cai, cai, cai no pepino...
É como disse o Gerônimo certa vez: não demora muito e as meninas vão estar com o clitóris na testa e a boca na pica dos caras em plena avenida e todo mundo vai achar normal. Indo um pouco além, acho até possível que a TV (incluindo aquela do Bispo) transmita o fato ao vivo como se fosse um beijo em plena avenida. Ê, midiazinha infeliz!

3 comentários:

Marcantonio disse...

É verdade. Aliás, acho que, no caso, o sentido nem é mais duplo. Mas tratemos de colocar o povo nessa roda aí também. Mídia quer dim-dim, e se há demanda (e como há!)... Vide a polêmica Chico César versus bandas de "forró de plástico" no São João de Campina Grande.

É o insolúvel círculo vicioso de uma falta de educação que gera uma demanda, e da oferta a essa demanda que acaba reforçando a falta de educação. A mídia pode veicular um programa sobre nutrição e alimentação saudável, e no intervalo tascar o comercial de uma rede de fast food. Imaginar solução pra isso é tão difícil quanto assistir o Congresso aprovar uma reforma política que vá contra os próprios interesses. Rs. Mas, dizem que água mole em pedra dura...

Abraço.

Hilton Deives Valeriano disse...

Cara, tudo isso é uma desgraça! Evidencia da miséria cultural de nosso país. Os alunos (adolescentes) vivem com essas merdas na boca! Lixo!

Anônimo disse...

Há vários tipos de sons. Apenas alguns são música.Pensem num serrote ou num martelo. Com a escrita, não é muito diferente. Também se pode entrar na zona da metalurgia. Também já ouvi bons músicos entrarem na insuportável combinação pior, de entre todas as possíveis: martelo no som e com metralhada textual. Curiosamente, um dia vi os mesmos músicos tocarem música excelente, melhor do que grandes bandas. Me parece que é a "mão invisível do mercado" que leva ATÉ excelentes artistas a executarem tamanha poluição mental.
Pedro Montalvão