segunda-feira, 11 de abril de 2011

Jogo é Jogo - Treino é Treino

Lembrei-me dessa velha máxima futebolística, que dá título ao texto de hoje, assim que chegou ao fim a apresentação do espetáculo Catedrais Suspensas, do qual participo recitando alguns dos meus poemas ao som do rock’n roll puro sangue da banda Enttropia, pois durante os ensaios havia ficado com a sensação de que alguma coisa ainda faltava, que não me surpreenderia se algo não corresse exatamente como pretendíamos.
 A tensão da estreia estava visível no rosto de cada um de nós desde a passagem do som até poucos minutos antes de entrarmos no palco. Eu, sobretudo, estava ansioso, pois em que pese a longa estrada recitando poesia, solo ou com outras bandas, ainda não havia me envolvido em um projeto como esse, onde as músicas foram minuciosamente pensadas e trabalhadas para estarem fundidas ao poema. Ou seja, apesar da maior receptividade por parte do público em relação à música nos dias de hoje, o poema estava dividindo em pé de igualdade, a atenção da plateia que lotou o espaço da Casa dos Artistas.
Percebi de algum modo que no palco não há lugar para insegurança ou temores. Tudo o que não importa é deixado de lado quando o grande momento se aproxima. E foi assim no calor da hora. Nenhum receio se sobrepôs à vontade de acertar e proporcionar um bom espetáculo.
No desenrolar da apresentação, cada coisa se mostrou no seu lugar, e melhor, com o calor da plateia, bem melhor que nos ensaios. Eu estava mais expansivo e visceral que nunca. E frente à receptividade do público, aplaudindo efusivamente a apresentação, confesso que, como se fosse possível, acabei sentindo uma nostalgia de um tempo muito distante, que não vivi. Fiquei pensando na importância dos poetas na Grécia antiga, em como eles, conforme Carlos Felipe Moisés aponta em Poesia & Utopia, gozavam de grande prestígio junto à sociedade. Naquele tempo, a poesia era vocal, portanto, feita para ser recitada em público, hoje, ela se presta mais à leitura solitária, silenciosa, embora continue sendo praticada e consumida em escalas nada inferiores a períodos anteriores.
Apesar dos poemas que fazem parte do espetáculo terem sido criados para o papel, para um livro futuro, por enquanto intitulado SPLEEN, já havia descoberto muito antes que eles serviriam bem à estética dos palcos ou das ruas. Essa ficha me caiu quando ouvi pela primeira vez a banda Manzuá utilizar o POEMA DOS SENTIDOS (de minha autoria) com muito êxito em suas apresentações. Recitado por Brisa Aziz, ele causa certo frisson no público, sobretudo vai num crescente até o último verso ser dito: “Sim, pra ser feliz é preciso enlouquecer!”. Tal fato me deu a ideia de criar um evento que unisse música e poesia, para mim, uma forma de colocar o poeta novamente no palco e lhe devolver um pouco do prestígio perdido.
Então criei com Elielton Cabeça, da Dr. Imbira, o Rock & Poesia, um evento que é sucesso total aqui em Ilhéus e que já teve duas edições, por onde passaram algumas das principais bandas e poetas da região. Foi dessa experiência que nasceu a possibilidade de um espetáculo como o Catedrais Suspensas, do qual me sinto muito orgulhoso em poder participar.
No próximo sábado tem mais e todos estão convidados.

2 comentários:

BAR DO BARDO disse...

Alvíssaras!

Senta o malho!!!

Fátima Santiago disse...

Lendo essa narrativa do espetáculo e seus bastidores e vendo o cenário intimista, achei bastante convidativo o show. Que tal apresentá-lo aqui em salvador?
Abraços e sucesso.