Lembrei-me
dessa velha máxima futebolística, que dá título ao texto de hoje, assim que
chegou ao fim a apresentação do espetáculo Catedrais Suspensas, do qual
participo recitando alguns dos meus poemas ao som do rock’n roll puro sangue da
banda Enttropia, pois durante os ensaios havia ficado com a sensação de que
alguma coisa ainda faltava, que não me surpreenderia se algo não corresse
exatamente como pretendíamos.
A tensão da estreia estava visível no rosto de
cada um de nós desde a passagem do som até poucos minutos antes de entrarmos no
palco. Eu, sobretudo, estava ansioso, pois em que pese a longa estrada
recitando poesia, solo ou com outras bandas, ainda não havia me envolvido em um
projeto como esse, onde as músicas foram minuciosamente pensadas e trabalhadas
para estarem fundidas ao poema. Ou seja, apesar da maior receptividade por
parte do público em relação à música nos dias de hoje, o poema estava dividindo
em pé de igualdade, a atenção da plateia que lotou o espaço da Casa dos
Artistas.
Percebi
de algum modo que no palco não há lugar para insegurança ou temores. Tudo o que
não importa é deixado de lado quando o grande momento se aproxima. E foi assim no
calor da hora. Nenhum receio se sobrepôs à vontade de acertar e proporcionar um
bom espetáculo.
No
desenrolar da apresentação, cada coisa se mostrou no seu lugar, e melhor, com o calor
da plateia, bem melhor que nos ensaios. Eu estava mais expansivo e visceral que
nunca. E frente à receptividade do público, aplaudindo efusivamente a
apresentação, confesso que, como se fosse possível, acabei sentindo uma
nostalgia de um tempo muito distante, que não vivi. Fiquei pensando na
importância dos poetas na Grécia antiga, em como eles, conforme Carlos Felipe
Moisés aponta em Poesia & Utopia, gozavam de grande prestígio junto à
sociedade. Naquele tempo, a poesia era vocal, portanto, feita para ser recitada
em público, hoje, ela se presta mais à leitura solitária, silenciosa, embora
continue sendo praticada e consumida em escalas nada inferiores a períodos
anteriores.
Apesar
dos poemas que fazem parte do espetáculo terem sido criados para o papel, para
um livro futuro, por enquanto intitulado SPLEEN, já havia descoberto muito
antes que eles serviriam bem à estética dos palcos ou das ruas. Essa ficha me
caiu quando ouvi pela primeira vez a banda Manzuá utilizar o POEMA DOS SENTIDOS (de minha autoria) com muito êxito em suas apresentações. Recitado por Brisa Aziz, ele causa certo
frisson no público, sobretudo vai num crescente até o último verso ser dito: “Sim, pra ser feliz
é preciso enlouquecer!”. Tal fato me deu a ideia de criar um evento que unisse
música e poesia, para mim, uma forma de colocar o poeta novamente no palco e
lhe devolver um pouco do prestígio perdido.
Então
criei com Elielton Cabeça, da Dr. Imbira, o Rock & Poesia, um evento que é
sucesso total aqui em Ilhéus e que já teve duas edições, por onde passaram algumas
das principais bandas e poetas da região. Foi dessa experiência que nasceu a
possibilidade de um espetáculo como o Catedrais Suspensas, do qual me sinto
muito orgulhoso em poder participar.
No
próximo sábado tem mais e todos estão convidados.
2 comentários:
Alvíssaras!
Senta o malho!!!
Lendo essa narrativa do espetáculo e seus bastidores e vendo o cenário intimista, achei bastante convidativo o show. Que tal apresentá-lo aqui em salvador?
Abraços e sucesso.
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