Medeia, ao nosso ver, é uma das personagens mais terríveis e fascinantes da mitologia grega, pois envolve sentimentos contraditórios e profundamente cruéis, sendo que o mais evidente é a paixão. No cerne dessa tragédia encontramos uma séria preocupação com o destino do homem, sua fragilidade e virtude, não apenas com os seus malogros no amor, nem com seus padecimentos por justiça, mas suas relações com a totalidade da conjuntura que o envolve, sua posição no meio em que se encontra.
Levando-se em consideração que na época as mulheres não eram tidas como membros da sociedade, parece-nos que em Medeia, Eurípedes, o último dos três grandes autores trágicos da Atenas clássica, questiona o lugar de um “negado” dentro de uma sociedade machista e conservadora, concedendo à personagem o poder de ter o destino de outras vidas em suas mãos. Nisso, é consenso geral, ele se diferencia dos seus predecessores, Ésquilo e Sófocles, que produziam tragédias mais harmônicas.
Para castigar a infidelidade do marido, Jasão, um argonauta, Medeia planeja matar os filhos, a nova esposa e matar-se também. Entretanto, o ato criminoso é o culminar de uma obra que se desenvolve dentro de um processo de extrema violência desde o princípio. E assim a psicologia trágica da personagem domina o drama desde que entra em cena, no primeiro episódio, após abandonada e traída pelo homem a quem tudo fez, até as últimas cenas quando obtém sucesso em seu plano de vingança, passando pelos monólogos em que sua alma nos aparece dilacerada, despedaçada, entre a vingança e o amor maternal, onde, embora convicta e certa de sua ação, demonstra remorso.
Mas o que entendemos por tragicidade, na obra é um sentimento de posse capaz de levar o ser às últimas consequências, talvez um sentimento quase patológico, em que a personagem se realiza com o mal que causa, potencialmente evidenciado em uma singular passagem, quando após admirar e tocar os filhos, envia-os ao encontro da amante, Creúsa, filha do rei Creonte com um presente mortal, e diz: “mais potente do que a minha vontade, é a paixão, que é a causa dos maiores males para os mortais”.
Embora no entendimento atual, as paixões não sejam boas ou más em si mesmas, sendo boas quando contribuem para a elevação humana; e más, no caso contrário, elas podem ser assumidas, guiadas e ordenadas pelas virtudes ou pervertidas e desorientadas pelos vícios ou pelo desequilíbrio do ser, como é o caso evidenciado em Medeia, de Eurípedes.
Ilustração:
Levando-se em consideração que na época as mulheres não eram tidas como membros da sociedade, parece-nos que em Medeia, Eurípedes, o último dos três grandes autores trágicos da Atenas clássica, questiona o lugar de um “negado” dentro de uma sociedade machista e conservadora, concedendo à personagem o poder de ter o destino de outras vidas em suas mãos. Nisso, é consenso geral, ele se diferencia dos seus predecessores, Ésquilo e Sófocles, que produziam tragédias mais harmônicas.
Para castigar a infidelidade do marido, Jasão, um argonauta, Medeia planeja matar os filhos, a nova esposa e matar-se também. Entretanto, o ato criminoso é o culminar de uma obra que se desenvolve dentro de um processo de extrema violência desde o princípio. E assim a psicologia trágica da personagem domina o drama desde que entra em cena, no primeiro episódio, após abandonada e traída pelo homem a quem tudo fez, até as últimas cenas quando obtém sucesso em seu plano de vingança, passando pelos monólogos em que sua alma nos aparece dilacerada, despedaçada, entre a vingança e o amor maternal, onde, embora convicta e certa de sua ação, demonstra remorso.
Mas o que entendemos por tragicidade, na obra é um sentimento de posse capaz de levar o ser às últimas consequências, talvez um sentimento quase patológico, em que a personagem se realiza com o mal que causa, potencialmente evidenciado em uma singular passagem, quando após admirar e tocar os filhos, envia-os ao encontro da amante, Creúsa, filha do rei Creonte com um presente mortal, e diz: “mais potente do que a minha vontade, é a paixão, que é a causa dos maiores males para os mortais”.
Embora no entendimento atual, as paixões não sejam boas ou más em si mesmas, sendo boas quando contribuem para a elevação humana; e más, no caso contrário, elas podem ser assumidas, guiadas e ordenadas pelas virtudes ou pervertidas e desorientadas pelos vícios ou pelo desequilíbrio do ser, como é o caso evidenciado em Medeia, de Eurípedes.
Ilustração:
Medeia, de Eugène Delacroix
4 comentários:
É uma das tragédias mais fascinantes. Tenho com tradução de Mário da Gama Kuri.
UM TOQUE, OU VÁRIOS DELES: MEDÉIA NÃO É UMA PERSONAGEM MITOLÓGICA. DIZER DE EURÍPEDES "O ÚLTIMO DOS TRÊS AUTORES TRÁGICOS" NÃO SIGNIFICA DIZER QUE ERA O MAIS JOVEM, NEM QUE ERA UM TREGEDIÓGRAFO (CUIDADO COM A SINTAZE, OU MELHOR, CUIDADO COM O WIKIPÉDIA). AS MULHERES ERAM SIM TIDAS COMO MEMBROS DA SOCIEDADE, COMO NÃO PODERIA DEIXAR DE SER. ELAS NÃO TINHAM OS DIREITOS CIVIS QUE TÊM HOJE.
DEPOIS MANDO O RESTO, UM ABRAÇO.
HW
Quanta contradição, meu caro leitor! Onde viste que Medeia não é uma personagem da mitologia grega? Saiba que Medeia está ligada à expedição dos Argonautas, posto que Jasão é um deles. Portanto, trata-se de um mito muito anterior à tragédia, revisitado por Eurípedes e adaptado para o teatro. Em uma das versões do mito ela não mata os filhos, mas os Corintos. Há, ainda, outras.
A Wikipedia é uma boa fonte, sim, mas não é a única. Coincidentemente a frase a qual vc alude e me sugere cuidado (Eurípedes é o último dos três grandes autores trágicos da Atenas clássica) aparece em outros sites e obras, como “história da literatura e da arte”, a qual consultei, do albert hauser, por exemplo, e nos principais sites de filosofia e mitologia.
Tal afirmação refere-se à importância do autor em relação a Sofocles e Ésquilo.
Outra contradição sua: os estudiosos da Grécia Antiga falam sobre o "não" lugar da mulher naquela sociedade. Daí ela não fazer parte da sociedade, quer dizer, não decidir. Vide a situação delas entre os espartanos. Penélope também é um bom exemplo. Apesar de ser a “dona” da casa de Ulisses por ser sua esposa ela não possuía poderes sobre o oikos e quem “governava” era Telémaco, apesar da pouca idade.
Prezado Gustavo, esse anônimo deve ser um "erudito"! Um abraço!
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