Tenho a impressão que Blanca Varela está para a poesia peruana assim como Gabriela Mistral está para a poesia chilena e Cecília Meirelles para a brasileira, em um patamar destacado, devido, sobretudo, pelo grande senso de humanidade impresso em sua obra, fortemente influenciada pelas correntes surrealistas do pós-guerra.
Nacida en Lima, 1926, muito jovem ingressou na Universidade de São Marcos para estudar Letras e Educação, onde conquistou a amizade de importantes intelectuais da época. Em 1949 se radicou em Paris, onde conheceu Octávio Paz, que foi determinante em sua carreira literária introduzindo-a no círculo de intelectuais latinoamericanos e espanhóis radicados na França.
Posteriormente viveu em Florença e Washington, onde se dedicou, principalmente, à traduções. Em 1959 publicou seu primeiro livro, “Esse porto existe”, “Luz do dia”, em 1963, e “Valsas e outras confissões”, 1971. Mais tarde, em 1978, publicou “Canto vilão”, a primeira recompilação de sua escrita. A antologia definitiva de sua obra, de 1949 a 1998, foi publicado sob o título “Como Deus no nada”.
Obteve o prêmio Octávio Paz de Poesia e ensaio, 2001, o Prêmio Cidade de Granada, 2006, e os prêmios García Lorca e Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana, em 2007. Faleceu na cidade de Lima, em Março de 2009.
CANTO VILÃO
Tradução de Gustavo Felicíssimo
e de pronto a vida
em meu prato de pobre
um magro pedaço de celeste porco
aqui em meu prato
observar-me
observar-te
ou matar a mosca sem malícia
aniquilar a luz
ou fazê-la
fazê-la
como quem abre os olhos e eleje
um céu farto
no prato vazio
rubens cebolas lágrimas
mais rubens mais cebolas
mais lágrimas
tantas histórias
negros indigeríveis milagres
e a estrela do oriente
emparedada
e o osso do amor
tão roído e tão duro
brilhando em outro prato
esta fome própria
existe
é a gana da alma
que é o corpo
é a rosa de gordura
que envelhece
em seu céu de carne
mea culpa olho turvo
mea culpa negro bocado
mea culpa divina náusea
não há outro aqui
neste prato vazio
senão eu
devorando os meus olhos
e os teus
CANTO VILLANO
y de pronto la vida
en mi plato de pobre
un magro trozo de celeste cerdo
aquí en mi plato
observarme
observarte
o matar una mosca sin malicia
aniquilar la luz
o hacerla
hacerla
como quien abre los ojos y elige
un cielo rebosante
en el plato vacío
rubens cebollas lágrimas
más rubens más cebollas
más lágrimas
tantas historias
negros indigeribles milagros
y la estrella de oriente
emparedada
y el hueso del amor
tan roído y tan duro
brillando en otro plato
este hambre propio
existe
es la gana del alma
que es el cuerpo
es la rosa de grasa
que envejece
en su cielo de carne
mea culpa ojo turbio
mea culpa negro bocado
mea culpa divina náusea
no hay otro aquí
en este plato vacío
sino yo
devorando mis ojos
y los tuyos.
(De “Canto Villano”, 1972-1978)
Nacida en Lima, 1926, muito jovem ingressou na Universidade de São Marcos para estudar Letras e Educação, onde conquistou a amizade de importantes intelectuais da época. Em 1949 se radicou em Paris, onde conheceu Octávio Paz, que foi determinante em sua carreira literária introduzindo-a no círculo de intelectuais latinoamericanos e espanhóis radicados na França.
Posteriormente viveu em Florença e Washington, onde se dedicou, principalmente, à traduções. Em 1959 publicou seu primeiro livro, “Esse porto existe”, “Luz do dia”, em 1963, e “Valsas e outras confissões”, 1971. Mais tarde, em 1978, publicou “Canto vilão”, a primeira recompilação de sua escrita. A antologia definitiva de sua obra, de 1949 a 1998, foi publicado sob o título “Como Deus no nada”.
Obteve o prêmio Octávio Paz de Poesia e ensaio, 2001, o Prêmio Cidade de Granada, 2006, e os prêmios García Lorca e Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana, em 2007. Faleceu na cidade de Lima, em Março de 2009.
CANTO VILÃO
Tradução de Gustavo Felicíssimo
e de pronto a vida
em meu prato de pobre
um magro pedaço de celeste porco
aqui em meu prato
observar-me
observar-te
ou matar a mosca sem malícia
aniquilar a luz
ou fazê-la
fazê-la
como quem abre os olhos e eleje
um céu farto
no prato vazio
rubens cebolas lágrimas
mais rubens mais cebolas
mais lágrimas
tantas histórias
negros indigeríveis milagres
e a estrela do oriente
emparedada
e o osso do amor
tão roído e tão duro
brilhando em outro prato
esta fome própria
existe
é a gana da alma
que é o corpo
é a rosa de gordura
que envelhece
em seu céu de carne
mea culpa olho turvo
mea culpa negro bocado
mea culpa divina náusea
não há outro aqui
neste prato vazio
senão eu
devorando os meus olhos
e os teus
CANTO VILLANO
y de pronto la vida
en mi plato de pobre
un magro trozo de celeste cerdo
aquí en mi plato
observarme
observarte
o matar una mosca sin malicia
aniquilar la luz
o hacerla
hacerla
como quien abre los ojos y elige
un cielo rebosante
en el plato vacío
rubens cebollas lágrimas
más rubens más cebollas
más lágrimas
tantas historias
negros indigeribles milagros
y la estrella de oriente
emparedada
y el hueso del amor
tan roído y tan duro
brillando en otro plato
este hambre propio
existe
es la gana del alma
que es el cuerpo
es la rosa de grasa
que envejece
en su cielo de carne
mea culpa ojo turbio
mea culpa negro bocado
mea culpa divina náusea
no hay otro aquí
en este plato vacío
sino yo
devorando mis ojos
y los tuyos.
(De “Canto Villano”, 1972-1978)
Um comentário:
Grande poema. A imagem final é forte, fortíssima, de valorizar para sempre qualquer poeta.
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