Sempre fico impressionado com a ignorância da maioria dos poetas brasileiros que conheço quando falamos sobre vozes femininas na poesia sulamericana. Por isso esses posts, primeiramente sobre Gabriela Mistral, depois Banca Varela, e agora Alfonsina Storni.
Apesar de nascida na Suiça, não há como negar que, como poeta, Alfonsina Storni é argentina. Aliás, uma das suas principais vozes até hoje. Alfonsina emigrou com seus pais para San Juan, em 1896, Em 1901, muda-se novamente, dessa vez para Rosário, onde, segundo sua biografia, teve uma vida com muitas dificuldades financeiras, tendo trabalhado para o sustento da família como costureira, operária, atriz e professora.
A descoberta de câncer no seio, em 1935, e o suicídio de um amigo, o também escritor Horácio Quiroga, em 1937, abala-a profundamente. Em 1938, três dias antes de se suicidar, envia de um hotel de Mar del Plata para um jornal, o soneto “Voy a Dormir”. Suicidou andando para dentro do mar. Seu corpo foi resgatado do oceano no dia 25 de Outubro de 1938. A poeta tinha 46 anos. A belíssima canção "Alfonsina y el mar", de Ariel Ramirez e Félix Luna foi gravada por Mercedes Sosa.
Diante do mar, de Alfonsina Storni
Tradução de José Agostinho Baptista
Oh, mar, enorme mar, coração feroz
de ritmo desigual, coração mau,
eu sou mais tenra que esse pobre pau
que, prisioneiro, apodrece nas tuas vagas.
Oh, mar, dá-me a tua cólera tremenda,
eu passei a vida a perdoar,
porque entendia, mar, eu me fui dando:
"Piedade, piedade para o que mais ofenda".
Vulgaridade, vulgaridade que me acossa.
Ah, compraram-me a cidade e o homem.
Faz-me ter a tua cólera sem nome:
já me cansa esta missão de rosa.
Vês o vulgar? Esse vulgar faz-me pena,
falta-me o ar e onde falta fico.
Quem me dera não compreender, mas não posso:
é a vulgaridade que me envenena.
Empobreci porque entender aflige,
empobreci porque entender sufoca,
abençoada seja a força da rocha!
Eu tenho o coração como a espuma.
Mar, eu sonhava ser como tu és,
além nas tardes em que a minha vida
sob as horas cálidas se abria...
Ah, eu sonhava ser como tu és.
Olha para mim, aqui, pequena, miserável,
com toda a dor que me vence, com o sonho todos;
mar, dá-me, dá-me o inefável empenho
de tornar-me soberba, inacessível.
Dá-me o teu sal, o teu iodo, a tua ferocidade,
Ar do mar!... Oh, tempestade! Oh, enfado!
Pobre de mim, sou um recife
E morro, mar, sucumbo na minha pobreza.
E a minha alma é como o mar, é isso,
ah, a cidade apodrece-a engana-a;
pequena vida que dor provoca,
quem me dera libertar-me do seu peso!
Que voe o meu empenho, que voe a minha esperança...
A minha vida deve ter sido horrível,
deve ter sido uma artéria incontível
e é apenas cicatriz que sempre dói.
Ligações externas:
Neste link se encontra alguns dos poemas de maior relevância da autora:
http://www.vivir-poesia.com/2003/01/alfonsina-storni-2/
Aqui algumas traduções para o português:
http://luizfelipecoelho.multiply.com/journal/item/573/Oito_poemas_de_Alfonsina_Storni_1892-1938
Apesar de nascida na Suiça, não há como negar que, como poeta, Alfonsina Storni é argentina. Aliás, uma das suas principais vozes até hoje. Alfonsina emigrou com seus pais para San Juan, em 1896, Em 1901, muda-se novamente, dessa vez para Rosário, onde, segundo sua biografia, teve uma vida com muitas dificuldades financeiras, tendo trabalhado para o sustento da família como costureira, operária, atriz e professora.
A descoberta de câncer no seio, em 1935, e o suicídio de um amigo, o também escritor Horácio Quiroga, em 1937, abala-a profundamente. Em 1938, três dias antes de se suicidar, envia de um hotel de Mar del Plata para um jornal, o soneto “Voy a Dormir”. Suicidou andando para dentro do mar. Seu corpo foi resgatado do oceano no dia 25 de Outubro de 1938. A poeta tinha 46 anos. A belíssima canção "Alfonsina y el mar", de Ariel Ramirez e Félix Luna foi gravada por Mercedes Sosa.
Diante do mar, de Alfonsina Storni
Tradução de José Agostinho Baptista
Oh, mar, enorme mar, coração feroz
de ritmo desigual, coração mau,
eu sou mais tenra que esse pobre pau
que, prisioneiro, apodrece nas tuas vagas.
Oh, mar, dá-me a tua cólera tremenda,
eu passei a vida a perdoar,
porque entendia, mar, eu me fui dando:
"Piedade, piedade para o que mais ofenda".
Vulgaridade, vulgaridade que me acossa.
Ah, compraram-me a cidade e o homem.
Faz-me ter a tua cólera sem nome:
já me cansa esta missão de rosa.
Vês o vulgar? Esse vulgar faz-me pena,
falta-me o ar e onde falta fico.
Quem me dera não compreender, mas não posso:
é a vulgaridade que me envenena.
Empobreci porque entender aflige,
empobreci porque entender sufoca,
abençoada seja a força da rocha!
Eu tenho o coração como a espuma.
Mar, eu sonhava ser como tu és,
além nas tardes em que a minha vida
sob as horas cálidas se abria...
Ah, eu sonhava ser como tu és.
Olha para mim, aqui, pequena, miserável,
com toda a dor que me vence, com o sonho todos;
mar, dá-me, dá-me o inefável empenho
de tornar-me soberba, inacessível.
Dá-me o teu sal, o teu iodo, a tua ferocidade,
Ar do mar!... Oh, tempestade! Oh, enfado!
Pobre de mim, sou um recife
E morro, mar, sucumbo na minha pobreza.
E a minha alma é como o mar, é isso,
ah, a cidade apodrece-a engana-a;
pequena vida que dor provoca,
quem me dera libertar-me do seu peso!
Que voe o meu empenho, que voe a minha esperança...
A minha vida deve ter sido horrível,
deve ter sido uma artéria incontível
e é apenas cicatriz que sempre dói.
Ligações externas:
Neste link se encontra alguns dos poemas de maior relevância da autora:
http://www.vivir-poesia.com/2003/01/alfonsina-storni-2/
Aqui algumas traduções para o português:
http://luizfelipecoelho.multiply.com/journal/item/573/Oito_poemas_de_Alfonsina_Storni_1892-1938
Nenhum comentário:
Postar um comentário