segunda-feira, 4 de maio de 2009

Micro entrevista com José Marins

Caríssimos leitores, nessa oportunidade nossa micro entrevista é com José Marins, escritor, poeta, haicaísta paranaense, grande incentivador dos iniciantes. Publicou “Fazendo o dia” (poemas), “Poezen” (haicais), “Pinha Pinhão” (haicais encadeados). Escreveu “O Dia Do Porco”, e “Quiçaça” (romances inéditos). Reside em Curitiba.

Gustavo Felicíssimo - De que modo se deu sua aproximação com o haicai?
José Marins
– Tive a alegria de freqüentar a Feira do Poeta em Curitiba, um ponto de encontro de aprendizes de poetas, aos domingos. Paulo Leminski era dos mais assíduos. Aprendi com ele os primeiros rascunhos do haicai-livre. O haicai mexeu com todo mundo. Eram os anos 80, os leminskianos. Juntei 88 deles e fiz o livro Poezen, em 1985. Não tínhamos onde ler ou pesquisar. (Ainda não havia Internet!) Então, na mesma época surgiu o pequeno livro do Paulo, “Basho, a lágrima do peixe”; e, Sendas de Oku, de Matsuo Bashô, em tradução da Olga Savary, que muito me ajudaram. E havia os haicais da Helena Kolody, que nos ensinava leveza.

GF – O segredo do haicai estaria em dizer com profundidade e simplicidade aquilo que não está dito?
JM
- Gosto muito da defição do Prof. Paulo Franchetti: “Haikai não é síntese, no sentido de dizer o máximo com o mínimo de palavras. É antes a arte de, com o mínimo, obter o suficiente”. Para mim é revelar um sentido, o haimi, em três versos, com leveza poética, sem afetações de linguagem ou do intelecto. O bom haicai apenas sugere, mostra, aponta um detalhe na paisagem do mundo da natureza visto pelo poeta.

GF – Uma provocação. Há quem diga que um poema não seria exatamente literatura, mas uma coisa diversa, embora tenha sido acolhida como tal. Considerando tal hipótese, te pergunto: o haicai estaria para a poesia assim como a poesia estaria para a literatura?
JM
– Todas as formas já produzidas não dão conta da poesia. O haicai é mais uma delas, ele tem o seu próprio lugar. Assim como os gêneros literários não dão conta da literatura, pois esta retrata a vida, a condição humana. Jakobson quando demonstrou a função poética da linguagem, matou a charada. Então, há que se falar de uma poética que perpassa a literatura.
A poesia é uma estratégia da língua para se manter viva e se renovar. Logo, ela é parte da literatura, como o haicai é uma forma de poema que contribui para a poesia. Tudo está num mesmo campo: existe a função literária da vida!

Conheça os haicais encadeados de José Marins e Sérgio Pichorim em:
http://fieiradehaicais.blogspot.com/

3 comentários:

Anônimo disse...

José Marins é uma das pessoas mais importantes do país e do mundo quando o assunto é hai-kai.

A sopa de poesia ficou ainda mais saborosa com a contribuição teórica dele.

Mas gostaria de ver na sopa um montão de seus hai-kais. Marins tem um cuidado especial com eles, é um artesão da palavra, no verdadeiro sentido do termo.

Regina Bostulim

Anônimo disse...

José Marins, não é só um excelente hacaista é além de tudo um apaixonado pela literatura. Lendo os seus contos e suas poesias compreendemos o quanto ama tudo o que faz.
Consolação Buzelin

Rafael Noris disse...

Ainda não havia lido esta entrevista. Muito interessante, ainda mais que o acompanho pela lista. Gostaria de encontrar os haicais antigos dele, deve ter mudado bastante nestas décadas. Abraço!