segunda-feira, 18 de maio de 2009

Cinema independente na Bahia

Por Maísa Paranhos

Milton Santos, Silvio Tendler e Carlos Pronzato , o que há de comum entre eles?
Pertencem ao grupo de “todos os homens de boa vontade” em transformar o mundo. Para melhor, é claro!


Quando assisti ao filme de Tendler ”Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá”, não supus que surgiria um terceiro personagem nesta película, Carlos Pronzato.
Sob a câmara genial e sensível de Silvio, passa a figura do grande e hoje saudoso mestre dos mestres, o geógrafo baiano Milton Santos que nos deixa seu pensamento claro e límpido sobre a contemporaneidade, contrapondo ao que chamou de globalitarismo neoliberal, os movimentos que surgem com a força e determinação de uma semente germinando para garantia do que lhes é sagrado, a própria sobrevivência material, étnica e cultural.
Tendler nos desvenda uma série de manifestações , por vezes anônimas, mas pulsantes em sua determinação transformadora.
O terceiro “homem de boa vontade” no filme de Sílvio, o cineasta Carlos Pronzato, faz parte dessa resistência. Argentino residente em Salvador, documentarista, com sua câmara à tira-colo, sem financiamentos e parcos patrocínios, fará artesanalmente o que se chama cinema independente.
De agudeza política rara, uma câmera competente e um compromisso de estar sempre ao lado dos despossuídos, Pronzato vai fazendo os seus registros.
É desta forma que penetrando nas veias latinoamericanas chega nos rincões mais remotos de nosso Continente.
Dono de uma filmografia ampla e variada, ouviu a voz do povo ribeirinho do São Francisco e nos trouxe sua insatisfação com o abandono do rio em “Além do jejum, as verdades do Velho Chico”.
Já a “A Guerra da Água”, mostra a organização popular impedindo a privatização da água por empresas estrangeiras e em ”Jallalla (que viva!) Bolívia, Evo Presidente” nos comove com a posse do primeiro presidente boliviano indígena eleito pelo povo.
O Chile será focalizado por Pronzato quando, investigando a verdadeira cidade natal do Presidente Allende, se Valparaiso ou Santiago, o cineasta nos traz as diversas versões sobre o golpe militar naquele País. Allende e o seu governo vão se agigantando aos olhos do espectador.
Uma nova Latino-América se desenha com Carlos Pronzato que do “lado de cá”, revela as expressões e conquistas dos movimentos sociais sem espaço na grande mídia, movimentos estes que sem dúvida o cineasta também integra.
Os artistas, mesmo independentes, precisam de um suporte material. No momento em que estão repercutindo os efeitos da modificação da Lei Rouanet, é fundamental que pessoas como Carlos Pronzato sejam contempladas e possam engrossar a fileira dos homens de boa vontade.

Publicado originalmente em Jornal A TARDE, Salvador-BA, 15 de maio /2009

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