Giorgio
Agamben em O que é o contemporâneo? e
outros ensaios (Argos, 2009) diz-nos
que “o poeta – o contemporâneo – deve manter fixo o olhar no tempo”. E propõe
uma definição de ser contemporâneo. Qual seja: “aquele que mantém fixo o olhar
no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro”. Imaginando, quem
sabe, que do poeta deve emanar as luzes do seu tempo, Agamben vai um pouco além
e ainda pronuncia que “contemporâneo é aquele que sabe ver essa obscuridade”.
Afinal, é das sombras do seu tempo que o poeta retira a matéria prima para a
poesia: se falta amor, falemos dele; se há autoritarismo, o denunciemos; se o
tempo é pobre, demonstremos a nossa perplexidade. Parafraseando São Francisco
de Assis, poderíamos dizer que a função do poeta é levar luz onde existe treva.
Reflexão
Ferreira Gullar
Está
fora
de
meu alcance
o
meu fim
Sei
só até
onde
sou
contemporâneo
de
mim
2 comentários:
Interessante o que fala esse crítico AGABEN. Ouvi uma pessoa inteligente dizer que o livro dele Profanações é imprescindível para pensar a literatura contemporânea. Quero ler. Você já leu? Abraços.
Ainda não, Fátima. O livro que cito é o mais conhecido, fruto de uma série de conferências na Universidade de Veneza. Mas em todo caso vou procurar esse do qual lhe falou um amigo. Vida longa!
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