segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Onde há treva que o poeta leve a luz


Giorgio Agamben em O que é o contemporâneo? e outros ensaios (Argos, 2009)  diz-nos que “o poeta – o contemporâneo – deve manter fixo o olhar no tempo”. E propõe uma definição de ser contemporâneo. Qual seja: “aquele que mantém fixo o olhar no seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro”. Imaginando, quem sabe, que do poeta deve emanar as luzes do seu tempo, Agamben vai um pouco além e ainda pronuncia que “contemporâneo é aquele que sabe ver essa obscuridade”. Afinal, é das sombras do seu tempo que o poeta retira a matéria prima para a poesia: se falta amor, falemos dele; se há autoritarismo, o denunciemos; se o tempo é pobre, demonstremos a nossa perplexidade. Parafraseando São Francisco de Assis, poderíamos dizer que a função do poeta é levar luz onde existe treva.

Reflexão
Ferreira Gullar

Está fora 
de meu alcance
o meu fim

Sei só até
onde sou

contemporâneo
de mim

2 comentários:

Fátima Santiago disse...

Interessante o que fala esse crítico AGABEN. Ouvi uma pessoa inteligente dizer que o livro dele Profanações é imprescindível para pensar a literatura contemporânea. Quero ler. Você já leu? Abraços.

Gustavo Felicíssimo disse...

Ainda não, Fátima. O livro que cito é o mais conhecido, fruto de uma série de conferências na Universidade de Veneza. Mas em todo caso vou procurar esse do qual lhe falou um amigo. Vida longa!