Com informações do PublishNews
e Folha de São Paulo
Ontem,
15, a Fundação Biblioteca Nacional promoveu a entrega dos Prêmios Literários
2011, iniciativa que há 17 anos, em parceria com o Minc, premia os melhores
escritores e trabalhos literários do país. Entre os premiados de 2011 está o
teólogo pernambucano Daniel Lima, de 95 anos. Ele guardava seus poemas na
gaveta. Um dia, uma de suas alunas descobriu os textos e levou-os, sem ele
saber, para uma avaliação editorial. O resultado foi a obra Poemas
(Companhia Editora de Pernambuco). Ao saber da premiação pelo telefone, da cama
de um hospital recifense, Daniel Lima, apesar de lúcido e solar, parecia
confuso, como quando foi informado pela reportagem da Folha, que acabara de
receber um prêmio da Biblioteca Nacional pelo seu primeiro livro. "Não é
uma brincadeira não?", perguntou. Não. Não era uma brincadeira.
Reunião
de quatro livros, a obra foi inscrita pela "professora-ladra", Luzilá
Gonçalves Ferreira ("roubei mesmo", diverte-se ela), no prêmio
literário. Concorreu com outras 50 obras na categoria poesia. Padre Daniel,
como é conhecido, bateu nomes como Ferreira Gullar e Affonso Romano de
Sant'Anna. Composto por Alexei Bueno, Antônio José Jardim e Frederico Gomes, o
júri escolheu o livro por unanimidade.
Alguns
poemas da obra premiada:
Ao
nasceres, tinhas o prefigurado rosto
que
hoje terias se houvesses sido tu mesmo
no
tempo singular de tua vida.
Mas
viveste o relógio, não teu tempo,
e
agora vê teu rosto:
o
que dele te resta é a desfigurada
sombra
do primeiro rosto
que
não soubeste ter,
nem
mereceste
***
Há
misérias nos homens.
Os
anjos cantam nas nuvens.
Era
Sexta-feira Santa
Cristo
morria.
Judas
se enforcava.
E
eu tomava sorvete.
***
Eu
sou a metáfora de mim.
Por
isto, quando eu morrer
morrerá
meu poema.
Restarão
apenas palavras sem sentido,
formas
tornadas vãs de um mistério
cuja
chave perdida para sempre
no
silêncio de morte
ninguém
encontrará.
***
Minha
mãe era feita de incertezas.
Tecida
de solidão de infindas luas.
Nunca
assentou seu coração viajeiro
de
medo de esquecer o fim da viagem.
Não
dormia, sonhava,
vivia
os sonhos acordada e louca
e
amava a vida
com
tal ódio e paixão, que até se percebia nos seus sonhos,
nas
mãos, nos gestos,
na
vontade de ser e o desespero
de
não ser nunca e ainda.
E
eu perguntava coisas.
E
ela não respondia,
apenas
navegava incertos mares,
guiada
por estrelas que eu não via.
Minha
mãe era feita de incertezas,
mas,
por certo, sabia o que queria.
2 comentários:
Belos poemas!
Parece que às vezes o crime (furto) compensa.
Bons textos!
Melhoras ao pe. Daniel!
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