Tenho
lido e relido a “Obra Reunida” de Orides Fontela (editada pela Cosac Naify), uma
poeta fatalmente influenciada pela filosofia zenista, um “Zen a meu modo”, como
diz ela sobre “Bucólicos”, obra em que encontramos poemas como esse – abaixo – que
se aproxima intensamente do haikai
A
chuva
lavou-me
toda
sem
deixar vestígios
de
ontem
cuja
diagramação bem poderia ser assim:
a
chuva lavou-me
toda
sem deixar vestígios
de ontem
Na
obra da autora paulista, muitos outros poemas seguem essa estética concisa e
significativa, cuja característica essencial é a naturalidade, a liberdade de
artifícios e a expressão da própria vida
Semeio
sóis
e sons
na
terra viva
afundo os
pés
no
chão: semeio e
passo
Não
me importa a colheita
Sobre
sua poesia Antônio Cândido disse o seguinte: Orides Fontela tem um dos dons essenciais da modernidade: dizer
densamente muita coisa por meio de poucas, quase nenhumas palavras [...] Denso,
breve, fulgurante, o seu verso é rico e quase inesgotável, convidando o leitor
a voltar diversas vezes.
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