quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Orides Fontela e o Zen


Tenho lido e relido a “Obra Reunida” de Orides Fontela (editada pela Cosac Naify), uma poeta fatalmente influenciada pela filosofia zenista, um “Zen a meu modo”, como diz ela sobre “Bucólicos”, obra em que encontramos poemas como esse – abaixo – que se aproxima intensamente do haikai

A chuva
lavou-me
toda
sem deixar vestígios
de ontem

cuja diagramação bem poderia ser assim:

a chuva lavou-me
toda sem deixar vestígios
                            de ontem

Na obra da autora paulista, muitos outros poemas seguem essa estética concisa e significativa, cuja característica essencial é a naturalidade, a liberdade de artifícios e a expressão da própria vida

Semeio sóis
 e sons
na terra viva

 afundo os
pés
no chão: semeio e
passo

Não me importa a colheita

Sobre sua poesia Antônio Cândido disse o seguinte: Orides Fontela tem um dos dons essenciais da modernidade: dizer densamente muita coisa por meio de poucas, quase nenhumas palavras [...] Denso, breve, fulgurante, o seu verso é rico e quase inesgotável, convidando o leitor a voltar diversas vezes.

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