segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ESTRELA DO NATAL


Carvalho Filho

É a estrela primeira da tarde, a que surge
alta e só num céu ainda claro
de silêncio e luz morrente,
em pleno espaço violáceo que coroa
os horizontes submissos do crepúsculo.

A que arde lúcida além da alma dos longes
no escampo ar marinho,
tão intensa e solitária que nem no mistério
das águas anoitecendo ensimesmadas
se reflete.

Queima no ermo a estrela virgem do Natal:
é asa de fogo, asa de fogo vencendo
num obscuro céu de memória.
É a anunciação apocalíptica da noite.
É a luz da Eternidade.

Cintila única na tarde descolorindo
e no universo parado
a estrela rútila do Natal:
- sobre os morros flutuando na luz crepuscular
- sobre os mares exaustos
- sobre distâncias de tempo azul e cinza
- sobre distâncias siderais
- sobre a cidade satânica
- sobre o coração humano.

É o espírito de Deus velando a treva.

Em Breve Romanceiro do Natal
Salvador; Editora Beneditina, 1972.

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