Carvalho
Filho
É a estrela primeira da
tarde, a que surge
alta e só num céu ainda
claro
de silêncio e luz
morrente,
em pleno espaço
violáceo que coroa
os horizontes submissos
do crepúsculo.
A que arde lúcida além
da alma dos longes
no escampo ar marinho,
tão intensa e solitária
que nem no mistério
das águas anoitecendo
ensimesmadas
se reflete.
Queima no ermo a
estrela virgem do Natal:
é asa de fogo, asa de
fogo vencendo
num obscuro céu de
memória.
É a anunciação
apocalíptica da noite.
É a luz da Eternidade.
Cintila única na tarde
descolorindo
e no universo parado
a estrela rútila do
Natal:
- sobre os morros
flutuando na luz crepuscular
- sobre os mares
exaustos
- sobre distâncias de
tempo azul e cinza
- sobre distâncias
siderais
- sobre a cidade
satânica
- sobre o coração
humano.
É o espírito de Deus
velando a treva.
Em
Breve Romanceiro do Natal
Salvador;
Editora Beneditina, 1972.
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